sexta-feira, 29 de julho de 2011

The World turned upside down, Christopher Hill


Neste “The world turned upside down- Radical ideias during the english revolution” não vamos encontrar a cronologia das guerras civis inglesas, não vamos ler descrições coloridas dos combates dos exércitos, da morte de Carlos I ou as acções de indivíduos ou grupos.
Aqui vamos encontrar a excitação das ideias que atravessaram a “arraia-miúda” e os personagens que incorporaram essas ideias, vamos encontrar o pensamento e ainda mais a acção que durante vinte anos virou o mundo de pernas para o ar. Vamos ver a luz quando se entreabriram portas e a escuridão quando elas se fecharam. Quando falamos em grandes abalos sociais pensamos logo na Revolução francesa ou na Rússia de 1917. Os anos das guerras civis inglesas foram talvez um período histórico cuja dimensão não fica atrás dos referidos.
A Inglaterra era uma sociedade feudal em que não havia nenhuma terra sem senhor. Essa sociedade começou a enfrentar enormes aumentos populacionais. Populações vagueavam pelos campos e pelas cidades, sem trabalho, na maior miséria.
Num período de fracas colheitas gente sem senhor vagueava pelos campos, pelos baldios, pelas minas, pelas florestas e pelos pântanos, vivendo hoje aqui e amanhã ali.
Nesta obra desfilam os Anabaptistas, os Familistas, os Quakers e os Seekers, os Ranters e os Diggers, bem como os nomes daqueles que representaram essas correntes.
A ética protestante com a sua defesa da propriedade e a ideia da salvação noutro mundo mas só para alguns, é varrida pelos pregadores que percorriam o país, acabando com os tribunais religiosos, os juízes e a censura. Defendiam o poder da congregação e não do prelado.
O New Model Army, o novo exército, modelos de mobilidade social, percorre o país mostrando aos “danados da terra” como podiam e deviam decidir do seu destino neste mundo e no outro.
Da lei á medicina, da ciência é religião, nenhum sector fica de fora deste fervilhar de ideias. Particularmente interessante o capitulo dedicado á ciência em que analisa como a Inglaterra entra na Revolução Industrial com Universidades enquistadas e fechadas aos novos conhecimentos científicos.
No refluxo das novas ideias a nação de profetas de Milton transforma-se na nação de lojistas. Depois dos novos poderosos terem estabelecido as novas alianças, aparecem as medidas repressivas: a proibição de petições para alterações de assuntos da igreja e do estado com mais de vinte assinaturas que não tenham sido aprovadas pelos poderes locais, o Act of Settlement de 1962 proibindo  a mobilidade ou as leis da caça dando poderes aos guarda a possibilidade de invadir casas e apreender armas.
Livro indispensável para acompanhar as cronologias da época, com detalhadas análises das diversas correntes e escrito com grande entusiasmo.

The World turned upside down- radical ideias during the english revolution
Christopher Hill
Penguin books
1991
pags. 430
ISBN 9780140137323

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sofia Gubaidulina: Hommage à T. S. Eliot, for octet & soprano (1987) / part VII


Christine Whittlesey, soprano

Gidon Kremer, violin I
Isabelle van Keulen, violin II
Tabea Zimmermann, viola
David Geringas, violoncello
Alois Posch, double bass
Eduard Brunner, clarinet
Klaus Thunemann, bassoon
Radovan Vlatković, horn

Based on T. S. Eliot's "Four Quartets" (1935-1942)

Part VII (soprano, clarinet, basson, horn, violin I & II, viola, violoncello, double bass)

terça-feira, 26 de julho de 2011

É a Lírica de Camões, senhores...


Direi apenas que no estudei os Lusíadas com Vergílio Ferreira, no Liceu Camões. A sério. Infelizmente também muitas coisas de Camões ficaram de fora. Havia, também, edições estupendas de Maria Ema Tarracha Ferreira, de textos de literatura portuguesa, que abriam portas para outra poesia de Camões e outros poetas portugueses .Havia também a Sá da Costa, com Bernardim Ribeiro e Filínto Eliseo
Sou pai de dois filhos que, desde pequenos, olhavam para os livros nas estantes mas a quem nunca empurrei para os lerem. Descobriram-nos quando quiseram e como quiseram. Começou a haver buracos entre os livros nas estantes mas tinham apenas viajados para outros quartos. Um lia mais poesia o outro literatura contemporânea.
Hoje, que já saíram para casa própria, os buracos continuam: Pynchons, Senas, Ginsbergs, Camões.
Tenho, casualmente, tentado repôr essas faltas. Quando vou a livrarias procuro Camões. Nunca o encontro. Ás vezes apenas as edições para estudantes de os “Lusíadas”, ás vezes nem isso.
Até que decidi ir á INCM. Lá estavam os três volumes da Lírica. 18,17 euros, preço pré-crise. Comprei o que estava em falta, o volume I, o do Sobolos rios…
O meu espanto é que a edição, a 2ª, é de 1986!!! Três mil exemplares! Este deve ser o último! Nem ISBN ainda coloca!
Tento imaginar-me no Reino Unido a tentar comprar os Sonetos de Shakespeare. A dificuldade seria certamente escolher uma das edições, se a de bolso, a cartonada ou a com gravuras. Imagino-me em França á procura de Villon ou em Itália á procura de Petrarca.
É a Lírica de Camões, senhores. Uma qualquer ediçãozinha de bolso, em papel de jornal, com capa a duas cores, por favor. Não precisa de ser anotada ou edição crítica.
É a eterna pescadinha de rabo na boca. Não o lêem por que não o encontram ou não há porque não o lêem?

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Leituras de Verão

Manuel Rodríguez Rivero escreve todos os sábados no Babelia – suplemento semanal do “El País – uma coluna de crítica literária chamada “Síllon de Orejas”. Juntamente com a excelente coluna de Vicente Verdú é a minha leitura obrigatória dos sábados.
Homem de grande cultura e de um humor subtil, dá-nos uma visão do panorama editorial do país vizinho e das suas leituras preferidas.
Nesta semana regressa ao tema do paradoxo do aumento dos títulos que as editoras editam e da simultânea queda das tiragens, abordando como as estatísticas sobre os hábitos de leitura são enganadoras.
Diz Manuel Rivero: “Antes de consultar el baremo de la temporada uno ya sabe que sus datos van a ser mucho mejores que los de la anterior. Si continúa la progresión optimista, dentro de una década los españoles no sólo serán los más lectores del planeta, sino también los más cultos: me los imagino como auténticas bibliotecas andantes, semejantes a los liberados de Fahrenheit 451 pero llevando siempre dos o tres volúmenes de repuesto sobre la cabeza, como si fueran modelos entrenándose para caminar con soltura por la pasarela. En la última encuesta se afirma que el 58% de los españoles lee libros en su tiempo libre (con un pequeño matiz: al menos una vez al trimestre) y que "esa población lectora" lee una media de 10,4 libros al año, "casi uno al mes". Ni el señor Zapatero, el mejor discípulo del volteriano Pangloss, sería tan optimista.”
O artigo completo pode ser lido aqui
No dia seguinte a ler este artigo ouvia numa entrevista Phillip Roth afirmar a sua convicção que a leitura e o leitor, como o conhecemos, será no futuro um pequeno nicho de pessoas. Perante a avalanche diária de tentações tecnológicas, dizia ele, o número de pessoas capazes de dedicar duas ou três horas diária á leitura de um romance diminui exponencialmente.
Dizem também as tais estatísticas, segundo afirma Manuel Rivero, que a leitura aumenta durante as férias de Verão. Talvez impulsionadas pelas sazonais listas de livros apresentadas pelos mais diversos media e que me parecem mais ser as listas das publicações que as diversas editoras querem promover.
Agora quando olhar para o lado na praia já não verei ninguém a ler o NoW mas continuarei a ver os Sun, os Daily Mirror, os Correio da Manhã, as Bolas e os Record e quase ninguém com um livro na mão.Os poucos que verei serão certamente estrangeiros.
Por isso também as estatísticas nacionais dos hábitos de leitura são tão enigmáticas para mim como o são para Manuel Rivero

(foto de dottorperni )

Theresa Evans - Wash # 71

Visto aqui

domingo, 24 de julho de 2011

"New Model Army", Adam Roberts

Quando gostamos de um romance de um autor que não conhecíamos e procuramos avançar na sua obra temos, por vezes, uma desilusão. Descobri Adam Roberts com “Salt” – de que gostei -, avancei para “The snow” – que me soube a pouco -  e avancei agora para “The New Model Army”.
O título faz-nos pensar, é claro, nos anos de 1640, em Inglaterra, quando o mundo estava virado do avesso e o exército era um viveiro de organização e a verdade de discussão era um fermento para o aparecimento das mais variadas ideias políticas. De um exército de conscritos passou a ser um exército de voluntários, especialmente nos seus escalões superiores.
Num futuro próximo temos aqui o relato de Pantagrel, membro do New Model Army (NMA) sobre os combates deste novo exército contra a organização militar clássica inglesa. O que o autor pretende equacionar é saber como é que nos tempos actuais, com as novas tecnologias e organização em rede, novas formas democráticas mais activas podem surgir.
Este NMA vai-se organizando em vários países do mundo. Pantagrel faz parte deste NMA, contratado pela Escócia, para combater as forças inglesas. É um exército sem chefes, sem a estrutura hierárquica clássica, organizado em volta de redes sem fios que interligam os seus membros. As decisões são tomadas através de votos maioritários, caso a caso, através dessas redes. O campo de batalha vai sendo actualizado permanentemente online.. O NMA faz-se e desfaz-se quando é necessário. Uma versão maoísta do exército no tempo das redes sociais.
O relato de Pantagrel vai discorrendo sobre os combates, as carnificinas, os amores e as traições e as suas próprias mudanças de bandeira entre o NMA, o exército regular e outra vez o NMA. Acaba detido e utilizado pelos eternos salvadores das forças americanas.
Acaba transformado por eles numa nova ama para destruir os outros NMA que proliferam numa União Europeia. Um isolado programador informático transforma-o em algo mais, numa nova entidade, capaz de neutralizar todas as forças.
Uma especulação sobre a maneira como as novas formas de organização em torno de redes sociais e novas formas de democracia participativa abre muitos percursos interessantes mas aqui cai-se em muitas incongruências e lugares-comuns. A guerrilha vietnamita dissolvia-se nas populações mas coexistia com um exército de características regulares, organizado e devidamente equipado. Esta NMA dissolve-se em sociedades urbanas sem se perceber como se armam, como se abastecem – nos hipermercados? –ou como desenvolvem as redes logísticas.
A evolução da história cai num impasse de que sai com um tropeção.
Exercício de meditação sobre a procura de novas formas de democracia representativa que se vai, pouco a pouco, desmoronando. É pena num escritor de escrita fluida e motivadora. Esperemos mais sucesso num próximo romance.

New Modern Army
Adam Roberts
2010
Gollancz
Pag. 281
ISBN 9780575083639

sexta-feira, 22 de julho de 2011

"Crimea", Orlando Figes

É famoso o praguejar do Capitão Haddock, popular personagem de Hergé. Entre as expressões que utiliza estão Bashi Bazouks e Zouaves. Para o leitor de hoje das Aventuras de Tintin são expressões cómicas e enigmáticas mas para o leitor das aventuras á data em que foram publicadas elas eram facilmente identificáveis e reportavam a personagens de um passado recente da Guerra da Crimeia.
Ela é, para o mundo de hoje, uma guerra algures num passado longínquo, difícil de colocar num mapa e de objectivos misteriosos.
Para alguns autores – Karl Polanyi, por exemplo- a Guerra da Crimeia terá sido um acontecimento mais ou menos colonial.
Orlando Figes, sólido historiador, dá-nos agora “Crimea e diz-nos que ela foi muito mais do que isso. A juntar á extensa bibliografia inglesa e francesa – uma outra obra interessante é “La guerre de Crimée”, Alain Gouttman, Tempus – o tema, Figes acede a novas fontes russas, francesas, inglesas e otomanas para dar nova luz ás razões religiosas, políticas, económicas e culturais que determinaram o envolvimento das diversas nações na guerra.
A Guerra da Crimeia – Vostochnaia voina, a Guerra do Levante, como a chamam os russos – foi para os nossos antepassados do século XIX o maior e o mais marcante conflito das suas vidas. Foi uma imensa matança de resultados irrisórios. Sendo impossível contabilizar as vítimas civis, só as militares causadas pelos combates ou pelos ferimentos e doenças  foram mais de 750 000.
Foi a primeira guerra da eram moderna, com novas armas, novas tecnologias, novos meios de transporte e de logística. Foi o campo de ensaio para a guerra de trincheiras da 1ª Guerra Mundial e aquela em que, pela primeira vez, a  imprensa e a opinião intervieram directamente no conflito
Teve os seus heróis e os seus mitos como foi a “Carga da Brigada Ligeira”, consagrada no poema de Tennyson e a “Senhora da Lanterna”, Florence Nightingale.
Nos capítulos iniciais, Orlando Figes dá um panorama da situação política nos diversos países, as suas teias de relações de interesses e a personalidade dos seus principais personagens.
O ponto de partida foi a questão da Terra Santa: católicos e latinos (apoiados pela França) enfrentavam os gregos ortodoxos (apoiados pela Rússia) para decidir quem teria o controlo da Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém e da Igreja da Natividade, em Belém. E é neste capítulos iniciais que é desenvolvida a tese, ignorada ou menorizada por muitos autores, da importância da questão religiosa no século XIX e como esta era sempre permanente na Questão do Levante. São capítulos de análise lúcida e convincente.
O estilo a que Orlando de Figes nos habituou em obras anteriores surge em pleno com a descrição do início da guerra e dos combates. Do nevoeiro do passado dos diários dos soldados, das cartas pessoais e dos relatórios militares, surgem as vozes pessoais dos diversos participantes no conflito.
Falam das tragédias da vida diária, dos mortos e feridos, da imensa carnagem, das condições abomináveis para apoio aos feridos, das arrogância e dos erros dos comandos. Ouvimos as vozes das opiniões públicas russas, inglesas e otomanas quando recebiam as notícias dos combates, da inacção da guerra de trincheiras e as listas com os milhares de mortes. Lá nos aparecem os Bashi Bazouks e os Zuoaves.
Os relatos dos combates naquela longínqua parte do mundo chegavam poucas horas ou dias depois de terem acontecido fazendo evoluir com rapidez a opinião pública e as acções dos dirigentes políticos.
Terminados os combates, declarado o cessar-fogo, assinaram-se os tratados para definir as partilhas dos despojos da guerra que poucas alterações provocaram no mapa da Europa.
Os excelentes capítulos finais mostram como se organizaram as relações internacionais no pós-guerra e como o caminho ficou aberto para os novos campos de morte num novo matadouro europeu.
Salientam-se as imensas emigrações forçadas e o desenraizamento de grupos étnicos e religiosos. Foram, desde logo, os tártaros na Crimeia mas também os gregos, os polacos, os cristãos arménios, os circassianos, os abkhazes e outros grupos muçulmanos.
Sobre um império otomano fraco saltaram franceses e inglesas impondo os seus mercados, os seus produtos e sua maneira de vida. A abertura ás ideias do ocidente pelo império otomano gerou conflitos por toda a região  que ainda hoje assistimos.
O ressentimento russo contra o ocidente assenta neste período as suas raízes e na Rússia de Putin são hoje recuperados muitos dos personagens de então.
Excelente análise histórica com um estilo atraente esta “Crimea”

Crimea
Orlando Figes
Penguin Books
2004
Pag. 575
ISBN 9780141013503

O catálogo da "Loja de História Natural" online

Perto de outra loja imprescindível -a Livraria Poesia Incompleta- temos a Loja de História Natural. Fica na Rua Monte Olivete 40, uma transversal da Rua da Escola Politécnica em Lisboa.
Estes não são apenas locais para falarmos deles. São locais para lá ir e arrastar amigos para lá irem também.
Aprecio muito os movimentos para salvarem este ou aquele local de culto mas entendo que fazer deles um local de ida regular é o que os mantém vivos.
A Loja de História Natural está aberta de Terça a Sexta das 11H até ás 20H e Sábado das 10H às 19H.
O seu novo catálogo online pode ser acedido aqui.

CAM apresenta retrospectiva de João Penalva

Esta não é uma silly season para as arte plásticas. Cabrita Reis está no CCB e agora no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, temos João Penalva.
Esta é a sua maior retrospectiva apresentada em Portugal indo das suas pinturas dos anos 90 até ás intalações e filmes.
Com curadoria de Isabel Carlos, a exposição decorre a 9 de Outubro.
Mas que Verão este. Entre estes dois acontecimentos o meu coração balança...
Um aperitivo aqui.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Criatura nº5 - revista de poesia

Já tinha ouvido falar dela várias vezes. Tinha até tentado ir ás livrarias da Faculdade de Letras de Lisboa para a comprar mas diversos ataques de preguiça tinham frustrado essa compra. Até que um dia a encontrei na Fnac.
Chama-se “Criatura” – o seu sítio é este - esta revista de poesia. Reporto-me ao número 5, o mais recente. É editada pelo “Núcleo Autónomo Calíope da Faculdade de Direito de Lisboa”.
Abrir um livro e poesia cujos poetas se desconhecem é sempre fascinante. Quando agarramos um poeta conhecido, mesmo que nunca o tenhamos lido, estamos sempre sujeitos a uma leitura ligeiramente influenciada pela sua popularidade. Com os desconhecidos é sempre uma excitante aventura.
Como diz Roger Wolfe, um dos poetas da colectânea, “Poemas’/alguns funcionam/outros não./Se o que queres é uma garantia,/ então compra uma televisor.”.
Novíssimos poetas de diferentes sensibilidades, o que mais sentimos é a qualidade que atravessa todos os seus catorze poetas.
São poemas da nossa contemporaneidade, dos nossos tiques urbanos e dos nossos anseios: “Como todos os negócios com direito a um espaço comercial,/ o nosso afecto ocupava o tempo de antena da primavera,/ os bancos do cinema King,/ o lugar estratégico das estrelas,/ o vazio da Web e o mal estar das massas”.
Nesta “Criatura” estão representados poetas já com obra publicada e outros que ainda a não se estrearam com obra própria mas isso não podemos deduzir ao longo da leitura. Poesia do nosso descontentamento? O que encontramos é uma poesia dos restos que ficam dos nossos dias que passam “ em chamadas e recados e tarefas”.
Esta é verdadeiramente, como dizia a saudosa, poesia para se comer, com sabor e cheiro a pão fresco, acabado de cozer.
Uma capa negra, uma estrutura sóbria e misteriosa, esconde a intensa luminosidade dos poemas.

Criatura nº5
Núcleo Autónomo Calíope da Faculdade de Direito de Lisboa
Direcção de Ana M. P. Antunes, David Teles Pereira e Diogo Vaz Pinto
Pag. 153
ISBN 9789899592131

sábado, 16 de julho de 2011

Portugal e a Europa em crise

Vai ser apresentado o livro "Portugal e a Europa em crise".Trata-se de uma colectânea de textos de destacados economistas sobre a crise económica portuguesa e europeia e das alternativas para a superar. Edição conjunta da editora Actual e do Monde Diplomatique-edição portuguesa, a obra é organizada por José Reis e João Rodrigues.
A apresentação estará a cargo de João Cravinho. Terá lugar no dia 19 de Julho, às 18h30m, na Livraria Almedina do Saldanha, em Lisboa.

walter hugo mãe na FLIP

Tem sido bastante comentada na imprensa a participação de walter hugo mãe na FLIP- Festa Literária Internacional de Paraty.
No blogue Ciberescritas de Isabel Coutinho podemos ver com agrado essa participação .

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Bosch no Museu Nacional de Arte Antiga

Para um fim-de-semana de Verão uma excelente exposição.Está no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa: "Confrontos- Bosch e o seu círculo"
É realizada em colaborção com o Museu Groeninge(Bruges, Bélgica) de onde chegam duas das peças. O tríptico das Tentações de Santo Antão é posto em confronto com o tríptico do Juízo final e o tríptico das Provações de Job.

Visitas orientadas para adultos
Confrontos: Bosch e o seu Círculo Domingo, 17 Julho: 11h30 e 15h30
Domingo, 24 Julho: 11h30
Quinta-feira, 4, 11, 18 Agosto: 22h00
Quinta-feira, 25 Agosto: 21h30
Domingo, 4 Setembro: 15h30
Domingo, 11 e 25 Setembro: 11h30
Domingo, 18 Setembro: 11h30 e 15h30
Visita à exposição temporária.
Sem inscrição prévia, limitado à capacidade da sala. Encontro no Átrio 9 de Abril.

A exposição decorre até 25 de Stembro 2011. Mais informações aqui

Tristano morre, Antonio Tabucchi

Sabe bem ler um livro como este nos tempos de brasa que vivemos actualmente em que, perante a avalanche diária de notícias sobre a crise económica e política, as nossas memórias como que se dissolvem para retermos apenas as mais imediatas.
Um homem, idoso, no fim da vida, algures numa aldeia da Toscana, num tórrido Agosto, decide acertar contas com as memórias da sua vida. Fá-lo através de intermitentes conversas com um escritor que terá escrito um romance em que ele seria o personagem principal.
A vida será um romance lido uma única vez há muito tempo, diz-se neste “Tristano morre”. Assim esse romance, essa vida é recordado por Tristano aos borbotões, algumas vezes real, outras vezes mais imaginada do que real.
Arrancadas ao fundo do tempo e da memória chegam os episódios de lutas de libertação contra ocupações da Grécia e da Itália e da construção por futuros melhores. Cada segundo era uma vida intensamente vivida na ponta de uma espingarda. Farrapos de ilusões e traições, de céus azuis e verdes mares, paisagens infinitas, tornadas ainda maiores pelo amor por alguma mulher. Como caixas de sapatos subitamente abertas que espalham pelo chão amarelecidas fotografias; Tristano vai recolhendo as recordações de mulheres amadas, de mulheres deixadas, de mulheres que permaneceram no decurso da sua vida.
Vida intensamente vivida que desemboca na contemporaneidade representada no “blateleblá” berlusconiano da televisão e agora levado ainda mais ao extremo na cacofonia dos bláblábás virtuais da Internet, das suas redes sociais e do fervilhar dos gadgets. No meio dos sonhos da morfina que lhe é administrada, os pedaços da vida que submergem são de profunda felicidade e de grande paz, sem ressentimentos.
António Tabucchi é um escritor de créditos firmados e de obras inesquecíveis. “Tristano morre” é António Tabucchi no seu melhor, com o livro que se lê de uma só vez com imenso prazer e a que se volta várias vezes para reler excertos.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Aguarela

Na Tate Britain decorre até 21 de Agosto, uma exposição de aguarelas. Na Tate Blog  podemos encontrar um interessante video de Mike Chaplin.Das diversas obras expostas ele analisa com mais detalhe aguarelas de Turner e explica como poderia ter sido pintada uma aguarela de um pôr-do-sol no Tamisa.
Para quem gosta de pintar a aguarela aqui fica o video "Como pintar um pôr-do-sol de Turner"  .

Um mapa para a ficção científica

Um mapa imaginativo para a História da Ficção Cientifíca:




Retirado daqui: http://www.boingboing.net/2011/03/09/wondrous-detailed-ma.html

terça-feira, 12 de julho de 2011

"Surface Detail", Ian M. Banks

Não se espera o grande Canon filosófico, nem novas especulações existenciais. É uma Space Opera: infinitos universos, seres estranhos, naves acima da velocidade da luz, buracos negros, explosões de plasma, heróis singulares. É disto que estamos a falar em “Surface detail”, de Ian M. Banks.
È um romance de ficção cientifica integrado no ciclo Culture. As outras, num ciclo que já vai quase nos vinte anos,  são: “Consider Phlebas”, “ The Player of Games”, “The State of the Art”, “Use of Weapons”, “Excession”, “Inversions”, Look to Inward”, e “Matter”.
Estou sempre de pé atrás perante qualquer autor recente prolífero na sua produção. Mas Ian M. Banks já há muito é autor consagrado neste género.
A teoria da história das civilizações como uma evolução contínua para o progresso não funciona aqui. Nestes mundos de neo-humanos, estranhos seres e máquinas sencientes vamos encontrar os mesmos vícios, defeitos e maravilhas da humanidade como a conhecemos: desejos por outras vidas, traições, vinganças.
Esta história procura percorrer alguns caminhos que assentam na realidade actual dos avatares, dos jogos virtuais com vários jogadores, dos grandes impérios ditatoriais dos buscadores informáticos, das nuvens da Internet e dos cada vez mais gigantescos servidores para alojar a informação.
Veppers, um ditador de uma civilização menor, cuja fortuna foi feita á conta da industria dos jogos virtuais, senhor de inúmeros planetas e aspirante a novas conquistas, assassina Lededge, mulher que transformou numa das suas concubinas e mascote. Ela é recreada numa nave pertencente á evoluída sociedade “Culture”.
O seu desejo de vingança acontece num momento em que decorre uma guerra no mundo virtual entre os defensores de um Inferno virtual e os que defendem as outras vidas como uma sucessão de paraísos, lado em que se encontra a Culture
Como em todas as guerras vamos encontrar veteranos agentes duplos de inúmeras batalhas, alianças temporárias, abundantes traições, vários serviços secretos especializados e a habitual “inteligência” militar.
Só que a luta entre a facção dos diversos Infernos e a que se lhes opõe está prestes a passar para o mundo Real, onde as guerras são meras recordações passadas e as antigas máquinas de combate estão recicladas para outras funções.São estas naves, inteligentes e com personalidades próprias que vão evitar que isto aconteça.
O  livro está repleto de cenas de sadismo atroz, que se desenrolam nos diversos infernos virtuais, alternando com cenas de humor delicioso. Veja-se o nome das naves: “Sense amid madness, wit amonst folly”, “ Bodhisattva”, “Me, Im counting”, “The usual but etymologically unsatisfactory”, “Falling outside the moral constrains”.
No meio de tanta acção e imaginação também vamos encontrar alguns tropeções como personagens que parecem surgir apenas para encher algumas páginas e alguma adjectivação excessiva. Mas como boa Space Opera voamos por muitas horas de entusiasmante aventura e fechamos o livro a pensar qual será o destino do que hoje estamos a criar nas realidades virtuais que cada vez mais habitamos. Venha uma nova ou vamos ás precedentes que ainda não tenhamos lido.

Surface Detail
Ian M. Banks
2010
Orbit books
Paperback
Pag. 627
ISBN 9781841498959

Marketing Ombro a Ombro


Enquanto nos deliciamos com a espantosa série "Mad Men" temos agora um obra que nos puxa para a contemporaneidade ou pós-contemporaneidade: "Marketing ombro a ombro", de João Pinto e Castro.
Com a Internet somos todos ("We few, we happy few, we band of brothers", é claro) escritores, cineastas, realizadores, artistas plásticos, opinadores com os nossos minutos de fama. Criamos casulos onde nos anichamos, tribos de onde saímos e entramos com enorme velocidade. Num dia somos activistas contra a situação no Darfur para no dia seguinte já estarmos a fazer petições contra o estacionamento em Lisboa.
Como deve o Marketing (e as empresas) encarar e agir nesta nova sociedade de consumo pulverizada e tribalizada? Este é o tema centrar de "Marketing ombro a ombro".
Numa escrita fluída e inteligente, o autor vai alternando capítulos com casos de estudo com capítulos em que as novas ideias são abordadas de forma mais teórica. Desfilam os caso da Lomo, da RedBull, da Lego ou da Devo, dos seus sucessos e dos seus fracassos. Em simultâneo vai-se analisando este novo "consumidor activo, conectado e poderoso e as formas de o escutar, de mergulhar nessas comunidades e de passar de uma reacção passiva á prestação de serviços.
O estilo que o autor escolheu está bem de acordo com o tema e este nosso século 2.0. Cada capítulo conclui-se-se com a moral da história dos exemplos apresentados ou com o resumo das ideias fortes, das coisas a fazer e a da bibliografia aconselhada.Até contém um capitulo para aqueles que pouco conseguem ler mais do que 140 caracteres. Um estilo que bem poderia ser adoptado por muitos manuais dos vários graus de ensino.
Este é um livro para todos e para os especialistas da área, um livro que nos recorda a saudosa e falecida colecção "Que sais-je?".
A comprar para ler aos bocados ou todo de uma vez, sem risco de indigestão.
Marketing Ombro a Ombro
João Pinto e Castro
Editora Leya
2011
pag. 271
ISBN 9789724743165

domingo, 10 de julho de 2011

Para recordar Cy Twombly

cy-twombly-5.jpg

Surrealismo editorial

Na edição de Babélia do "El País" leio um artigo de opinião interessante. Segundo o autor (Manuel Rodriguez Rivero) os dados respeitantes ao sector editorial espanhol em 2010 mostram que enquanto a facturação no sector desceu 7%, a produção cresceu 5%. Situação surrealista.


São crónicas de crises anunciadas mas que ninguém quer encarar de frente. Fugas para a frente. Na bolha imobiliária espanhola também todos assobiavam para o lado com as consequências de hoje são visíveis.


De cada vez que olho para um expositor de uma livraria espanhola fico sempre impressionado pelas pilhas de livros. Ao menos salva-se o nível dos autores, a qualidade das edições, a abundância dos livros de bolso e a rapidez das traduções dos contemporâneos.


Por cá, nos nosso quintal, vamos pelo mesmo caminho. Quantas vezes vou procurar livros recém publicados e já não os encontro nos expositores nem nas estantes. Já se transformaram em lixo substituídos pela fornada do dia. Nem os nossos clássicos se salvam: é impossível encontrar a "Lírica" de Camões nas estantes e talvez a única edição actual seja a da Imprensa Nacional em 3 volumes.


Mas enfim, quem sou eu para analisar este panorama suicidário senão um simples leitor.

sábado, 9 de julho de 2011

um brinquinho


Mais uma entrada na Livraria "Poesia Incompleta" em Lisboa


um brinquinho



El cálamo del poeta,

Abu Tammam ibn Rabah de Catalatrava, Hiperión


Un Lun Dun

No expositor da livraria estavam dois livros de China Miéville que ainda não tinha lido: "King Rat" - o seu primeiro livro - e "Un Lun Dun". Por razões de que não recordo " Un Lun Dun" nunca me tinha despertado interesse mas foi este que comprei.

Nunca se deve comprar um livro quando se está cansado. Não lê-mos com atenção as capas e as contra-capas, as badanas e alguns excerptos. O grafismo no livro passa demasiado depressa pelos sentidos. Todavia comprei-o.

Em casa, quando li a primeira página tive um choque: um livro para jovens! Mas já que o tinha na mão porque não começar a lê-lo. Percorridas as primeiras páginas já tinha sido sugado pelo remoinho da escrita fantástica de China Miéville.

Duas jovens raparigas londrinas vêem-se transportadas para uma reflexo de Londres, uma Un-Londres. Aí encontram autocarros de dois andares que voam e se transformam, com homens que têm uma cabeça que é uma gaiola de um pássaro, pontes que, como os arco-íris, não se sabe onde começam e acabam. São envolvidas numa luta contra o Smog que, derrotado na Londres que conhecemos, se dispõe a conquistar a Un-Londres. Alianças estabelecem-se e quebram-se; heróis em não heróis para serem substituídos por outros; entre os dois mundos cruzam-se espiões e desenvolvem-se traições ao mais alto nível nos dois mundos.

Miéville vive em Londres e é a Londres que está sempre presente nos seus romances mesmo naqueles passados em estranhos universos como é o caso do fabuloso "Perdido Street Station". Londres com os seus diferentes locais, pessoas e maneiras de falar. Londres como um universo bem mais complexo do que a mais publicitada Nova York.

"Un Lun Dun" arrastou-me para a memória dos livros fantásticos que lia enquanto jovem - A história de Dona Redonda e sua gente - e que ainda hoje recordo com saudade. "Un Lun Dun" é como se a escrita de Miéville tivesse sido reduzida á sua expressão mais simples, como se uma complexa equação nos aparecesse apenas na beleza do seu gráfico.

É um prazer de leitura para os jovens mas talvez ainda mais para os adultos que recordam as tardes passadas com as suas leituras de juventude. Como um bom livro para jovens as ilustrações que nele são incluídas são maravilhosas. Ainda bem que estava cansado naquele dia em que o comprei.

(China Miéville vive em Londres e é autor de "Perdido Street Station", "The City and the City", EmbassyTown", entre outros.)

Ben Webster and Billy Taylor

Ben Webster and Billy Taylor no episódio Swing da série de TV de 1958 "The subject is Jazz".

sexta-feira, 8 de julho de 2011

The Snow, Adam Roberts


The Snow
Adam Roberts
Gollancz science fiction, 2004
Paperback
360 p.
Comprado através da Amazon.co.uk


Começa a nevar e os dias sucedem-se se que ela pare de cair. Toda a actividade humana vai paralisando até toda a Terra ficar coberta por mais de três quilómetros de espessura de neve. Desaparece toda a vida animal e vegetal. Talvez tenham sobrevivido 150 000 pessoas.
É pois para um cenário pós- apocalíptico de este romance deste autor inglês nos arrasta. Tina Bojani Sahai é uma das poucas sobreviventes. Londrina, separada, com uma filha, descendente de emigrantes indianos fugidos do regime de Apartheid da África do Sul. Vive soterrada por quilómetros de neve num escritório em Londres durante largos meses até salva por um grupo da nova organização ocidental que rabisca as cidades enterradas.
Tina vai enfrentar um mundo constituído por meia dúzia de cidades instaladas por cima do manto de neve. È um mundo militarizado, racista em que proliferam as teorias da conspiração acerca das causas do aparecimento da neve.
Adam Roberts foge aos caminhos clássicos das novelas pós-apocalípticas - guerra nuclear, aquecimento global, etc - para procurar novos trilhos. Arrasta-nos com habilidade para este mundo branco, estruturando o seu romance em estilos distintos. É através de relatórios escritos por Tina e censurados pelos militares que vamos acompanhando a vida naquele novo mundo. Os nomes dos intervenientes são substituídos por espaços em branco [Blank] o que provoca um enorme envolvimento do leitor na história. Pena é que uma escrita fluida e a interessante caracterização psicológica dos personagens seja ponteada por alguns clichés contemporâneos - o 11 Setembro, o terrorismo - pouco desenvolvidos.
Leitura agradável, com originalidade que, apesar dos seus altos e baixos, nos conduz com intensidade até um final imprevisível.

(Adam Roberts nasceu e vive em Londres. Ensina Literatura inglesa e Escrita Creativa e é autor de várias contos e romaces de ficcção cientifica, entre os quais se destacam "Salt", "Swiftly" e "New Model Army")