domingo, 23 de outubro de 2011

"Postwar - a history of Europe since 1945", Tony Judt

Já o tinha lido uma vez. Relei-o agora com mais calma, procurando um ou outro tema, recuando para uma data e seguindo as suas consequências anos depois.
“Postwar - a history of Europe since 1945” de Tony Judt é um grandioso mural da Europa saída de duas mortíferas guerras até aos anos mais recentes. Os nossos momentos altos e as nossas imbecilidades estão aqui todas retratadas.
A memória do homem é como a memória dos mais idosos: recorda com mais facilidade acontecimentos distantes no seu passado do que acontecimentos recentes. O que acontece hoje parece ter saído do nada. Junta-se a isto a iliteracia galopante. Ainda hoje da mesa do meu café de domingo ouvia uma discussão entre dois homens, entre os 30 e 40 anos, acerca de saber se o 25 de Abril tinha sido em 1974 e 1975.
“Postwar” põe essa memória á nossa frente. Nele encontramos as razões para as erradas ladainhas que hoje somos bombardeados diariamente.
Os anos do renascimento da Europa são admiravelmente expostos: os milhões de mortos, a destruição maciça de países inteiros, as multidões a vaguearem por um continente calcinado; a questão de saber o que fazer com aquele enorme país derrotado ocupando o centro da Europa; a passagem da ideia americana de fazer da Alemanha um país agrícola impedindo o seu crescimento industrial á criação do Plano Marshall; o declínio da Inglaterra como super-potência mundial e o seu arrastar por longos anos de penúria; a posição revanchista da França; o desenrolar da Guerra-fria e a lenta queda da URSS e dos seus países satélites; os 30 anos dourados europeus, etc.
A lenta destruição da industria pesada europeia e da agricultura tradicional e o crescimento dos sectores terciários e do capital financeiro nas suas diversas formas são temas que a Tony Judt vai retomando pendularmente ao longo da obra, bem como o paradoxo de altas taxas de crescimento do desemprego em períodos de crescimento económico, as fracturas religiosas surgidas, as fobias sobre a emigração.
São páginas bem claras as que o autor dedica á reunificação alemã dirigida por Kohl, as políticas adoptadas para a integração da antiga RDA e como o conjunto da Europa contribuiu para esse esforço enorme.
Judt não entra em grandes elucubrações filosóficas ou políticas. Enumera os factos, as diversas posições perante eles e as consequências das decisões. De forma simples tudo fica a nu.
Grande parte da obra é dedicada ás convulsões da queda do regime soviético e as suas consequências nos países que controlava e na opinião pública ocidental. Dedica também muitas páginas ao fenómeno recorrente em todas as mudanças de regime que é o de responsáveis pelas antigas ditaduras se reciclarem na nova atmosfera política em campeões de um liberalismo que enriquece os seus bolsos. E nunca é demais recordar a tragédia foi o desmembramento da antiga Jugoslávia.
A parte final da obra, como não podia deixar de ser, é dedicada á construção da União Europeia, das suas virtudes e malefícios e que hoje, como diria Astérix, nos parece que está a cair sobre as nossas cabeças.
É claro que existem outros historiadores contemporâneos admiráveis – recorde-se Hobsbawm e a sua “Age of Extremes” – mas este Postwar é uma obra capital nestes tempos de brasa que estamos a viver. É um espelho um nos podemos olhar e ao ver o nosso passado recente pensar como podemos criar um presente melhor.

Título: Postwar - a history of Europe since 1945
Autor: Tony Judt
Data: 2007
Editor: Pimlico
Pags: 933
ISBN: 9780712665643

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