segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"Portugal e a Europa em Crise-para acabar com a economia de austeridade", vários autores


Vivemos verdadeiramente em tempos interessantes. Acabaram os tempos das águas paradas, na política, na economia e noutras áreas sociais. Os ventos são fortes e as vagas alterosas.
Não há gestor que se preze ou manual de motivação que não repita até á exaustão a máxima que a crise abre novas oportunidades. Se formos apenas seguir os títulos a negrito dos tablóides ou os mil repetidos sound bytes dos apresentadores ou comentadores da tele-economia, as oportunidades e os caminhos são os mesmos que os trouxeram á actual crise.
A oportunidade que aqui existe é a da procura de análises políticas e económicas do passado e de discussão de alternativas sólidas capazes de acabar com este vórtice de sacrifícios e miséria a que nos querem condenar.
“Portugal e a Europa em crise”, com coordenação de José Reis e João Rodrigues, recolhe artigos publicados na edição portuguesa do “Le Monde Diplomatique” entre 2008 e 2011.
Estamos portanto no centro do furacão. Os autores, economistas, de várias tendências, procuram analisar as razões da crise e soluções alternativas ás teorias actualmente dominantes.
Destacaria dois artigos, um pela abordagem de um problema que tem sido muito ocultado em Portugal e outro por referir, entre outros, a abordagem crua á ladainha de sair da crise exclusivamente com o aumento permanente das exportações.
A situação do imobiliário e Portugal é apresentada como preocupante apesar de quando se falar em bolhas imobiliárias europeias se falar apenas na Irlanda e na Espanha. A realidade nacional referida no artigo de que, em 2006, o crédito imobiliário representava 80% do crédito aos particulares e 56% do crédito ás empresas, mostra imediatamente o que vamos enfrentar. Ao mesmo tempo, o país, apresenta preços por metro quadrado idênticos ao da zona urbana de Berlim. É um mercado puramente especulativo, que tem grandes resistências, á mudança. Salienta ainda o autor, perante um panorama deste, a pouca atenção dada nas licenciaturas contemporâneas de economia, a esta área que está na base, em todo o mundo, da crise económica.
Outro autor analisa a nossa entrada na zona euro e as consequências que isso provocou numa economia como a nossa. E se a resposta aos primeiros sinais da crise foi a de intervenções maciças dos governos (leia-se contribuintes) no sistema bancário e estímulos á procura com intervindo em sectores e empresas e investimentos públicos de emergência, ela depressa acabou. Vale a pena reler a defesa, surpreendente, destes princípios feita pelos responsáveis da EU, Durão Barroso incluído. Foi de sol de pouca dura pois logo se começou a falar apenas da crise da dívida dos países, em especial dos chamados PIGS. Controlar a dívida a todo o custo e regressar ao equilíbrio orçamental é o missal actual.
O autor salienta ainda a contradição entre os problemas dos PIGS e a aflição dos chamados FUKD (França, Reino Unido e Alemanha). A crise não é nacional mas europeia dentro de uma crise mundial. A saída deve ser encontrada com racionalidade e equilíbrio, levando a reformulações do sistema monetário europeu, alterações na política do BCE e reforço político das instituições europeias.
Se um conjunto de teorias dominantes nos trouxe á crise porque é que devemos seguir as mesmas para tentar sair da crise? Os autores destes artigos procuram mostrar que há outros horizontes possíveis. Não caberá a eles mas sim aos actores políticos desenvolverem propostas claras e credíveis perante todos nós para aceitarmos essas alternativas. Talvez seja o que nos tem faltado nestes tempos interessantes que vivemos.

Título: "Portugal e a Europa em crise"
Autor: vários com coordenação de José Reis e João Rodrigues
Editor: Actual/Le Monde Diplomatique
Pags.: 202
ISBN: 9789896940218
Preço: 7 Euros

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