Era uma vez um país – Addeh Kadir – algures encravado a
norte dos Himalaias. Os seus habitantes tinham fugido dos movimentos pendulares
de massacres e tratados dos seus países e das proibições sobre a ingestão de
bebidas fermentadas impostas por Budistas, Muçulmanos, Cristãos e Hindus e
pequenas seitas. Nas margens do Lago Addeh, dividiram a terra equitativamente e
começaram a viver o mais sossegados que podiam, escolheram um membro da pequena
nobreza, disseram-lhe para os governar sem os chatear muito. Foram ocupados
pelo imperialismo inglês sem convulsões até que estes abandonaram o
subcontinente em 1947. Anos mais tarde, o All Asian Investment and Progressive
Banking Group, apoiado na Iniciativa para o Desenvolvimento que queria elevar
todo o mundo acima do limiar de pobreza através do triunfo do capitalismo em
larga escala, decidiu conceder-lhes um empréstimo. Nunca foi pedido pelos
locais e nunca foi usado. Ficou no banco a render juros que todavia nunca
cobriram a dívida que entretanto foi aumentando. No fim do empréstimo o Banco
quis cobrar a dívida mas o Marajá disse que nunca tinham pedido nada nem nunca
tinham usado nada. Não pagavam. O Banco avisou a NATO que Addeh Kadir era
composta por cripto comunistas. O regime foi derrubado, um regime fantoche foi
constituído, iniciou-se uma guerra civil em que um dos grupos, fiel ao antigo
regime era dirigido por Zaher Bey. O nome do país foi esquecido para ser
conhecido como Addeh Katir Problem.
Era um Teatro Electivo, uma espécie de paz hiper-violenta em
que as pessoas morriam. Era uma não-guerra. Quando a coisa começa a tornar-se
mais complicada é lançada uma arma secreta a Go Away Bomb, a mãe de todas as bombas, a bomba para fazer o
inimigo Go Away. Mas afinal a bomba não era tão secreta como isso. Todos os países
a tinham e num instante a maior parte do mundo desapareceu engolida pelo Stuff. A Go Away Bomb era um aspirador
de informação, retirando-a da matéria e da energia. As questões conceptuais
humanas tornaram-se físicas substituindo o mundo real pelos sonhos e pesadelos
da humanidade.
Fugindo do caos, recolhidos pelas forças fieis a Zaher Bey,
conhecemos os personagens principais. Sally Culpeper, Jim Hepsobah, Annie the
Ox, Gonzo Lubitseh e o narrador da Go Away War.
Na sua fuga encontram uma engenhoca que vai instalando o
Jorgmund Pipe, propriedade da empresa Jorgmund que lança a substancia FOX, a
única capaz de conter o Stuff e o mundo que surge das suas sombras. Trabalham
na engenhoca até o seu responsável ser substituído por uns tecnocratas para
quem o que conta são o cumprimento de objectivos nem que isso seja feito á
custa das mortes de alguns seres humanos.
Regressados á vida civil constituem o Haulage and Hazmat
Emergency Civil Forebooting Company of Exmoor County, especializada no combate
ao Stuff.
E mais não se pode contar do resto da história de “The Gone-Away
World”, de Nick Harkaway, o seu primeiro romance. Seria quebrar as surpresas
infinitas que iremos encontrar até á sua conclusão.
Escrita cristalina, com um subtil sentido de humor e um relato
que introduz personagens fascinantes e surpreendentes, complots dentro de
complots, cenas de intenso lirismo e um final imprevisível e avassalador.
Nick Harkaway, autor nascido na Cornualha é perito em artes
marciais e trabalhou na indústria cinematográfica. O seu romance traduz isso claramente
na construção de cenas que parecem saídas de um filme e das descrições de quase
Matrixcianos combates corpo-a-corpo.
Ninguém é o que parece ao longo do romance e muitas vezes quase que somos
obrigados a voltar atrás para confirmar se não nos enganámos no personagem. O
Narrador da história vai tornar-se um clássico desta nova corrente da ficção
científica a par de personagens clássicos como Valentine Michael Smith de “Um
estranho numa terra estranha” de Robert A. Heinlein.
Quem ler “The Gone-Away World” nunca o irá esquecer.
Título: The Gone-Away World
Autor: Nick Harkaway
Editor: Windmill Books
Data: 2009
Pag.: 584
ISBN: 9780099519973
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