Já o tinha lido uma vez. Relei-o agora com mais calma,
procurando um ou outro tema, recuando para uma data e seguindo as suas
consequências anos depois.
“Postwar - a history of Europe since 1945” de Tony Judt é um grandioso mural da Europa saída
de duas mortíferas guerras até aos anos mais recentes. Os nossos momentos altos
e as nossas imbecilidades estão aqui todas retratadas.
A memória do homem é como a memória dos mais idosos: recorda
com mais facilidade acontecimentos distantes no seu passado do que
acontecimentos recentes. O que acontece hoje parece ter saído do nada. Junta-se
a isto a iliteracia galopante. Ainda hoje da mesa do meu café de domingo ouvia
uma discussão entre dois homens, entre os 30 e 40 anos, acerca de saber se o 25
de Abril tinha sido em 1974 e 1975.
“Postwar” põe essa memória á nossa frente. Nele encontramos as
razões para as erradas ladainhas que hoje somos bombardeados diariamente.
Os anos do renascimento da Europa são admiravelmente
expostos: os milhões de mortos, a destruição maciça de países inteiros, as
multidões a vaguearem por um continente calcinado; a questão de saber o que
fazer com aquele enorme país derrotado ocupando o centro da Europa; a passagem
da ideia americana de fazer da Alemanha um país agrícola impedindo o seu
crescimento industrial á criação do Plano Marshall; o declínio da Inglaterra
como super-potência mundial e o seu arrastar por longos anos de penúria; a
posição revanchista da França; o desenrolar da Guerra-fria e a lenta queda da
URSS e dos seus países satélites; os 30 anos dourados europeus, etc.
A lenta destruição da industria pesada europeia e da
agricultura tradicional e o crescimento dos sectores terciários e do capital
financeiro nas suas diversas formas são temas que a Tony Judt vai retomando
pendularmente ao longo da obra, bem como o paradoxo de altas taxas de
crescimento do desemprego em períodos de crescimento económico, as fracturas
religiosas surgidas, as fobias sobre a emigração.
São páginas bem claras as que o autor dedica á reunificação
alemã dirigida por Kohl, as políticas adoptadas para a integração da antiga RDA
e como o conjunto da Europa contribuiu para esse esforço enorme.
Judt não entra em grandes elucubrações filosóficas ou
políticas. Enumera os factos, as diversas posições perante eles e as
consequências das decisões. De forma simples tudo fica a nu.
Grande parte da obra é dedicada ás convulsões da queda do regime
soviético e as suas consequências nos países que controlava e na opinião
pública ocidental. Dedica também muitas páginas ao fenómeno recorrente em todas
as mudanças de regime que é o de responsáveis pelas antigas ditaduras se
reciclarem na nova atmosfera política em campeões de um liberalismo que
enriquece os seus bolsos. E nunca é demais recordar a tragédia foi o
desmembramento da antiga Jugoslávia.
A parte final da obra, como não podia deixar de ser, é
dedicada á construção da União Europeia, das suas virtudes e malefícios e que
hoje, como diria Astérix, nos parece que está a cair sobre as nossas cabeças.
É claro que existem outros historiadores contemporâneos admiráveis
– recorde-se Hobsbawm e a sua “Age of Extremes” – mas este Postwar é uma obra
capital nestes tempos de brasa que estamos a viver. É um espelho um nos podemos
olhar e ao ver o nosso passado recente pensar como podemos criar um presente
melhor.
Título: Postwar - a history of Europe since 1945
Autor: Tony Judt
Data: 2007
Editor: Pimlico
Pags: 933
ISBN: 9780712665643
ISBN: 9780712665643
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