terça-feira, 15 de novembro de 2011

"Chronic City", Jonathan Lethem


Quando conclui a leitura da última página deste “Chronic City” de Jonathan Lethem levantei-me e fui abrir a janela da sala de par em par para deixar escapar o fumo e o cheiro a erva que se tinha libertado das 547 páginas deste romance.
É uma obra verdadeiramente alucinante. Já me tinha despertado a atenção este Jonathan Lethem, autor de várias obras com boas críticas. Não devia esperar outra coisa já que “the chronic” é o calão para erva de alta qualidade.
É um romance nova iorquino e os seus personagens são típicos da cidade e da sua sociedade, mais concretamente do Upper East Side de Manhattan.
Várias vezes durante a leitura recordei outra obra recentemente relida: “Golem” de Meyrink. Um relato de sonhos dentro de sonhos, de personagens que se transformam noutros personagens “em que o fim do sonho fazia ele mesmo parte de um sonho que o ponto final não interrompe. Que a história é infinita.”
É esta Nova Iorque e os seus personagens uma realidade virtual, um sonho dentro de outro sonho, uma simulação de computador que se vai reinventando com as acções dos personagens?
Nesta cidade que um estranho nevoeiro cinzento cobre há vários meses, com instalações de grande buracos feitos por um artista plástico – Ground Zero ? – em que um estranho cheiro a chocolate é apercebido por uma parte dos habitantes enquanto outros o sentem sobre a forma de sons, Chase Insteadman ( em vez de quê? Do personagem real?) trava conhecimento com Perkus Tooth.
Chase participou, enquanto jovem, numa popular sitcom dos anos 80 e apesar de não ter feito mais nenhuma é ainda um personagem famoso, frequentador habitual da alta sociedade da cidade.
Perkus Tooth foi um activista que colocava “dazibaos” pelos muros da cidade e antigo redactor da “Rolling Stone” mas sem nunca se reconhecer como um crítico musical. Hoje, é um sem-abrigo com um abrigo. Vive num apartamento que é o seu casulo e ao qual anexa restritos percursos e locais no exterior, rodeado de livros, discos, dvds, visitado regularmente na janela por Billie, um sem-abrigo que se irá transformar num mago da Internet e por um passador de erva com nomes esotéricos.
Chase rapidamente assume a tarefa de libertar Perkus do seu mundo paranoico mas é arrastado para esse mundo de longas discussões nocturnas filosóficas, anarquistas e conspirativas. Numa Nova Iorque de hoje Perkus fazia certamente parte do movimento “Ocupar Wall Street”.
O coração de Chase oscila entre Junice Trumbull e Oona Laszlo. Junice é uma austronauta que junto com outros americanos e russos está encravada numa estação espacial impedida de regressar á Terra por um campo de minas orbital colocado pelos chineses. Não se recorda da convivência anterior com ela. As comunicações que ela lhe envia são publicadas pelo New York Times e é nele que Chase as lê. É Junice um personagem real ou um personagem de um romance de ficção cientifica.
Oona Laszlo é uma “ghostwriter”. Fantasma também? É o seu amor físico apesar de achar que  ela é uma pessoa que ele não queria como amiga..
Ao longo das noites de fumo de erva e de cafeína, de curtas deslocações aos casulos exteriores de Perkus vão analisando os progressos das autoridades da cidade para capturarem um tigre fugitivo, um tigre que se vai agigantando, “ da altura de um segundo andar”. Um site da internet permite seguir os seus movimentos e os locais das suas futuras aparições. Será um tigre ou uma escavadora de túneis enlouquecida que vai destruindo locais da cidade ao serviço dos interesses municipais?
Um mayor bilionário, misto de Bloomber e Juliani, surge também quando Perkus e os seus amigos se dedicam a uma perseguição louca pela compra de um vaso que afinal não passa de uma construção feita por laser e que vai no ebay alcançando preços astronómicos quando frequentadores de “Another World” – recordam o “Second Life” – o licitam.
Será esta Nova Iorque uma simulação de computador dentro de outras simulações de computador, uma Nova Iorque de “Another World”.
Chase, espécie de ponte entre sectores da sociedade, perde contacto com Perkus. Este é arrastado para uma outra realidade, transformando-se agora num sem-abrigo sem abrigo, recolhido num edifício de apartamentos para cães vadios onde cuida de Ava, uma rottweiler com apenas 3 patas, um nova casulo de onde irá sair para uma outra realidade.
Ruas, hábitos rotineiros, discussões loucas, personagens atormentados por passados que são a antítese do seus presentes, longos monólogos cheios de referências a séries, filmes – terá Marlon Brando morrido ou estará a viver a sua realidade? – livros vão ocupando as páginas deste romance
Alucinante, tipicamente Nova iorquino que nos faz perguntar quando o concluímos se entrámos noutra simulação, a do nosso dia-a-dia onde julgamos ter lido um estranho livro.
Sentimo-nos como se tivéssemos corrido uns quilómetros. Cansados, transpirados mas com aquela sensação espantosa da adrenalina a esvair-se do nosso corpo.
Vou fechar a janela. O fumo já desapareceu da sala. O que fica entranhado dentro de nós, esse já não sai.

Título: Chronic City
Editor: Faber&Faber
Data: 2010
Pags:547
ISBN: 9780571235674

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"The Children of Men", P. D. James

O que me despertou a atenção foi o título desta colecção da Faber & Faber: Revolutionary Writting. Depois a sinopse deste “The Children of Men” e finalmente o facto de nunca ter lido nada de P. D. James.
P. D. James é a assinatura literária de Phillys Dorothy James autora de diversas obras de mistério mas este “The Children of Men” é essencialmente um romance distópico do género lato da ficção cientifica.
Numa luta de taberna, num subúrbio de Buenos Aires, no dia 1 de Janeiro de 2021, morreu Joseph Ricardo, o último dos seres humanos a ter nascido na Terra.
Theodore Faron, quer através de um relato na primeira pessoa, quer através das notas do seu diário, vai-nos dando a conhecer o que se passa em Inglaterra e no mundo quando a partir de 1995 – o Ano Ómega – deixaram de nascer seres humanos.
Theodore Faron, com 50 anos, doutor em filosofia na Universidade de Oxford, divorciado e sem filhos vive nesta sociedade em que a raça humana caminha para o seu desaparecimento.
É primo de Xam Lyppiatt, o ditador e Guardador da Inglaterra que neste crepúsculo da humanidade impõe uma sociedade ditatorial apoiado em forças militares e polícia secreta.
Depois da primeira surpresa da constatação de que tinham deixado de nascer crianças, os países uniram esforços para descobrir a causa da infertilidade e encontrar uma cura. A pouco e pouco a desconfiança entre países renasceu e antigas formas de ditadura emergiram novamente.
Nesta nova sociedade inglesa, os jovens ómegas de outros países são convidados a vir trabalhar para Inglaterra para serem expulsos sem apelo nem agravo quando atingirem os 60 anos de idade; a Ilha de Man é uma prisão autogerida pelos reclusos para onde são enviados os acusados de qualquer crime e suícidios colectivos de pessoas idosas – o Quietus – é estimulado pelo Estado.
Theodore Faron é abordado por Julian, uma rapariga que integra os Five Fishes, um grupúsculo radical que quer combater o regime. Depois de uma primeira abordagem diplomática junto do ditador, este solitário professor de Oxford, preso aos fantasmas da sua vida pessoal, ligado sentimentalmente á jovem que o contactou, vê-se arrastado para uma acelerada espiral de violência entre as formas do regime e o grupo radical que advoga novas formas de ditadura até atingir um clímax surpreendente.
Notável romance que começando numa cadencia lenta vai acelerando ao longo das páginas e coloca questões políticas que hoje debatemos. O combate ás ditaduras pode gerar novas formas de ditadura? Que factores arrastam um individuo para o activismo político? Como encarar aos emigrantes que fazem os trabalhos que já não queremos fazer?

Título: The Children of Men
Editor: Faber&Faber, Revolutionary writting
Data: 1992
Pags. 342
ISBN: 97805712581178

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Livros de FC a serem publicados em Novembro

A lista (incompleta) de livros de FC a serem publicados em Novembro segundo o SF Signal:

Lista aqui

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um organigrama dos 100 melhores livros de FC


Um organigrama de 3800x2300 pixels elaborado pela SF Signal que consolida a escolha dos melhores 100 livros de ficção ciêntifica votados por mais de 60000 leitores. A disfrutar plenamente aqui

domingo, 23 de outubro de 2011

"Postwar - a history of Europe since 1945", Tony Judt

Já o tinha lido uma vez. Relei-o agora com mais calma, procurando um ou outro tema, recuando para uma data e seguindo as suas consequências anos depois.
“Postwar - a history of Europe since 1945” de Tony Judt é um grandioso mural da Europa saída de duas mortíferas guerras até aos anos mais recentes. Os nossos momentos altos e as nossas imbecilidades estão aqui todas retratadas.
A memória do homem é como a memória dos mais idosos: recorda com mais facilidade acontecimentos distantes no seu passado do que acontecimentos recentes. O que acontece hoje parece ter saído do nada. Junta-se a isto a iliteracia galopante. Ainda hoje da mesa do meu café de domingo ouvia uma discussão entre dois homens, entre os 30 e 40 anos, acerca de saber se o 25 de Abril tinha sido em 1974 e 1975.
“Postwar” põe essa memória á nossa frente. Nele encontramos as razões para as erradas ladainhas que hoje somos bombardeados diariamente.
Os anos do renascimento da Europa são admiravelmente expostos: os milhões de mortos, a destruição maciça de países inteiros, as multidões a vaguearem por um continente calcinado; a questão de saber o que fazer com aquele enorme país derrotado ocupando o centro da Europa; a passagem da ideia americana de fazer da Alemanha um país agrícola impedindo o seu crescimento industrial á criação do Plano Marshall; o declínio da Inglaterra como super-potência mundial e o seu arrastar por longos anos de penúria; a posição revanchista da França; o desenrolar da Guerra-fria e a lenta queda da URSS e dos seus países satélites; os 30 anos dourados europeus, etc.
A lenta destruição da industria pesada europeia e da agricultura tradicional e o crescimento dos sectores terciários e do capital financeiro nas suas diversas formas são temas que a Tony Judt vai retomando pendularmente ao longo da obra, bem como o paradoxo de altas taxas de crescimento do desemprego em períodos de crescimento económico, as fracturas religiosas surgidas, as fobias sobre a emigração.
São páginas bem claras as que o autor dedica á reunificação alemã dirigida por Kohl, as políticas adoptadas para a integração da antiga RDA e como o conjunto da Europa contribuiu para esse esforço enorme.
Judt não entra em grandes elucubrações filosóficas ou políticas. Enumera os factos, as diversas posições perante eles e as consequências das decisões. De forma simples tudo fica a nu.
Grande parte da obra é dedicada ás convulsões da queda do regime soviético e as suas consequências nos países que controlava e na opinião pública ocidental. Dedica também muitas páginas ao fenómeno recorrente em todas as mudanças de regime que é o de responsáveis pelas antigas ditaduras se reciclarem na nova atmosfera política em campeões de um liberalismo que enriquece os seus bolsos. E nunca é demais recordar a tragédia foi o desmembramento da antiga Jugoslávia.
A parte final da obra, como não podia deixar de ser, é dedicada á construção da União Europeia, das suas virtudes e malefícios e que hoje, como diria Astérix, nos parece que está a cair sobre as nossas cabeças.
É claro que existem outros historiadores contemporâneos admiráveis – recorde-se Hobsbawm e a sua “Age of Extremes” – mas este Postwar é uma obra capital nestes tempos de brasa que estamos a viver. É um espelho um nos podemos olhar e ao ver o nosso passado recente pensar como podemos criar um presente melhor.

Título: Postwar - a history of Europe since 1945
Autor: Tony Judt
Data: 2007
Editor: Pimlico
Pags: 933
ISBN: 9780712665643

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

TS Eliot prize 2011 shortlist revealed

TS Eliot prize 2011 shortlist revealed

Carol Ann Duffy pitted against Sean O'Brien, Alice Oswald and John Burnside for 'prize most poets want to win':  aqui


domingo, 9 de outubro de 2011

"The Gone-Away World", Nick Harkaway


Era uma vez um país – Addeh Kadir – algures encravado a norte dos Himalaias. Os seus habitantes tinham fugido dos movimentos pendulares de massacres e tratados dos seus países e das proibições sobre a ingestão de bebidas fermentadas impostas por Budistas, Muçulmanos, Cristãos e Hindus e pequenas seitas. Nas margens do Lago Addeh, dividiram a terra equitativamente e começaram a viver o mais sossegados que podiam, escolheram um membro da pequena nobreza, disseram-lhe para os governar sem os chatear muito. Foram ocupados pelo imperialismo inglês sem convulsões até que estes abandonaram o subcontinente em 1947. Anos mais tarde, o All Asian Investment and Progressive Banking Group, apoiado na Iniciativa para o Desenvolvimento que queria elevar todo o mundo acima do limiar de pobreza através do triunfo do capitalismo em larga escala, decidiu conceder-lhes um empréstimo. Nunca foi pedido pelos locais e nunca foi usado. Ficou no banco a render juros que todavia nunca cobriram a dívida que entretanto foi aumentando. No fim do empréstimo o Banco quis cobrar a dívida mas o Marajá disse que nunca tinham pedido nada nem nunca tinham usado nada. Não pagavam. O Banco avisou a NATO que Addeh Kadir era composta por cripto comunistas. O regime foi derrubado, um regime fantoche foi constituído, iniciou-se uma guerra civil em que um dos grupos, fiel ao antigo regime era dirigido por Zaher Bey. O nome do país foi esquecido para ser conhecido como Addeh Katir Problem.
Era um Teatro Electivo, uma espécie de paz hiper-violenta em que as pessoas morriam. Era uma não-guerra. Quando a coisa começa a tornar-se mais complicada é lançada uma arma secreta a Go Away Bomb, a mãe de todas as bombas, a bomba para fazer o inimigo Go Away. Mas afinal a bomba não era tão secreta como isso. Todos os países a tinham e num instante a maior parte do mundo desapareceu engolida pelo Stuff. A Go Away Bomb era um aspirador de informação, retirando-a da matéria e da energia. As questões conceptuais humanas tornaram-se físicas substituindo o mundo real pelos sonhos e pesadelos da humanidade.
Fugindo do caos, recolhidos pelas forças fieis a Zaher Bey, conhecemos os personagens principais. Sally Culpeper, Jim Hepsobah, Annie the Ox, Gonzo Lubitseh e o narrador da Go Away War.
Na sua fuga encontram uma engenhoca que vai instalando o Jorgmund Pipe, propriedade da empresa Jorgmund que lança a substancia FOX, a única capaz de conter o Stuff e o mundo que surge das suas sombras. Trabalham na engenhoca até o seu responsável ser substituído por uns tecnocratas para quem o que conta são o cumprimento de objectivos nem que isso seja feito á custa das mortes de alguns seres humanos.
Regressados á vida civil constituem o Haulage and Hazmat Emergency Civil Forebooting Company of Exmoor County, especializada no combate ao Stuff.
E mais não se pode contar do resto da história de “The Gone-Away World”, de Nick Harkaway, o seu primeiro romance. Seria quebrar as surpresas infinitas que iremos encontrar até á sua conclusão.
Escrita cristalina, com um subtil sentido de humor e um relato que introduz personagens fascinantes e surpreendentes, complots dentro de complots, cenas de intenso lirismo e um final imprevisível e avassalador.
Nick Harkaway, autor nascido na Cornualha é perito em artes marciais e trabalhou na indústria cinematográfica. O seu romance traduz isso claramente na construção de cenas que parecem saídas de um filme e das descrições de quase Matrixcianos  combates corpo-a-corpo. Ninguém é o que parece ao longo do romance e muitas vezes quase que somos obrigados a voltar atrás para confirmar se não nos enganámos no personagem. O Narrador da história vai tornar-se um clássico desta nova corrente da ficção científica a par de personagens clássicos como Valentine Michael Smith de “Um estranho numa terra estranha” de Robert A. Heinlein.
Quem ler “The Gone-Away World” nunca o irá esquecer.

Título: The Gone-Away World
Autor: Nick Harkaway
Editor: Windmill Books
Data: 2009
Pag.: 584
ISBN: 9780099519973

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Colóquio/Letras nº 178


Já está á venda a Colóquio/Letras nº 178, referente a Setembro/Dezembro 2011, edição da Fundação Caloute Gulbenkian.
O tema central da revista é a poesia de Ruy Belo. Vários ensaistas analisam várias facetas da obra do Poeta.
Deste número constam ainda análises sobre a escrita de Hélder Macedo, poemas de João Rui de Sousa e Luísa Freire e um crónica de Mário Claudio.
Encontramos ainda recensões críticas da "Antologia Poética" de Jorge Sena, "Desobediência" de Eduardo Pitta e  "Um Teatro às escuras" de Pedro Tamen, entre outras.
A revista é acompanhada de um interessante suplemento dedicado ao "Siglo de Oro - Relações hispano-portuguesas no século XVII".
Ilustram a revista reproduções de obras de Pedro Calapez.
Uma número para nos acompanhar neste fim de 2011.

sábado, 24 de setembro de 2011

"Nervo", de Diogo Vaz Pinto


É o fascínio pelo abismo que me leva a escolher entre dois livros de poesia aquele de cujo autor nunca ouvi falar?
Na prosa isto é menos intenso. Os media anunciam, comentam e criticam os autores da moda mas também aqueles desconhecidos que a razão económica das editoras, na sua febre constante pela novidade, empurra para as prateleiras.
No mundo minimalista, quase secreto e clandestino da edição de poesia, o fenómeno é diferente. De qualquer maneira, entre o poeta laureado ou credenciado, escolho sempre o desconhecido.
Foi um destes saltos para o abismo que dei quando comprei “Nervo”, de Diogo Vaz Pinto, numa edição Averno. E afinal não caí nem me esmaguei. Bem pelo contrário. Flutuei nas correntes termais da sua poesia.
Dele sabia apenas ser um jovem poeta ligado ao Núcleo Autónomo Calíope, da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa.
Começo pelo mais rápido e curto e dizer aquilo de que não gostei. Não gostei de um excesso de citações de autores a introduzir diversos poemas. Desviam a atenção para outros horizontes, criam a angústia do regresso á leitura desses autores, diminuem a concentração sobre o poema.
Diogo Vaz Pinto não é um poeta militante da análise das contradições da sociedade: “Contra o mundo, prefiro a poesia / descomprometida, arredada de inúteis militâncias…”. É um poeta das contradições do eu com o outro, em especial do outro mulher. Não é um poeta lírico parnasiano mas um poeta lírico do dia-a-dia que o eu percorre. Diria ser o poeta vagabundo da melancolia e da cidade.
A palavra do poema procura a luz e o prazer, os cheiros, procura e encontra a solidão e o tédio.
Percorre a cidade “Lisboa pela tarde tem este gosto / a delírio manso…” Da cidade para a habitação, para o intimo interior físico e para o íntimo do eu e das suas relações amorosas: “De costas olho-te e imagino-te / no aborrecimento dos anos com algum / romance nos joelhos…”. Não é a poesia do encontro, da relação e do contacto com a surpresa do oposto feminino. É a poesia da melancolia do depois.
E  assim surge a solidão e a introspecção do eu: “Deitei a tarde pela janela e fiquei só..”. E essa solidão, que olha para o presente e para o passado vivido, reforça-se na repetição rotineira dos actos diários: “Entro no supermercado, atravesso / sozinho os corredores enquanto penso / na glória obscena e acessível / deste nosso princípio de século”.
O olhar do poeta percorre as pequenas coisas do quotidiano: “Pouso a chávena no parapeito.”, “ guardei o recibo que não serve para nada” ou ainda “Na cozinha, o pequeno rádio, os frascos / com doce e os olhos com que vens / brincando em tons de mel”.
Estamos confrontados com um poeta que vai ser uma referência incontornável na nova poesia portuguesa, bem mais interessantes que encontrei recentemente.
São cento e vinte páginas que mostram já uma produção abundante e que anunciam novos espantos poéticos ao leitor das suas obras futuras.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Os que mais influenciam os hábitos de leitura no Reino Unido

No Guardian uma lista interactiva dos que mais influenciam os hábitos de leitura no Reino Unido:

http://www.guardian.co.uk/books/interactive/2011/sep/23/books-power-100-interactive


"Barroco Tropical" nomeado para o Prémio Courrier International


De José Eduardo Agualusa, "Barroco Tropical" é um dos romances nomeados para o Prémio Courrier International 2011. O livro vencedor será conhecido no próximo dia 20 de Outubro.
Este Prémio foi criado em 2008 para o melhor relato ou romance estrangeiro publicado  em França nos 12 meses anteriores.
O Júri, contituído por Catherine André, Iulia Badea-Guéritée, Marc-Olivier Bherer, Pascale Boyen, Lidwine Kervella, Isabelle Lauze (presidente do jurí) et Nathalie Pingaud, escolheu ainda as seguintes obras:

D’Acier, Silvia Avallone (Italie), Liana Levi, traduzido do italiano porFrançoise Brun ;
Little Big Bang, Benny Barbash (Israël), Zulma, traduzido do hebreu por Dominique Rotermund
La faim Mohamed El-Bisatie, (Egypte), Actes Sud, traduzido do árabe por Edwige Lambert
La part de l’homme, Kari Hotakainen (Finlande), JC Lattès,traduzido do finlandês por Anne Colin du Terrail
Des lanternes à leurs cornes attachées, Radhika Jha (Inde), Philippe Picquier, Traduzido do inglês (India) por Simone Manceau
Les Savants, Manu Joseph (Inde), Philippe Rey, Traduzido do inglês (India) por Bernard Turle
Aux frontières de l’Europe, Paolo Rumiz (Italie), Hoëbecke, traduzido do italiano por Béatrice ViernIlustrado, Miguel Syjuco (Philippines), Christian Bourgois, traduzido do italiano por Anne Rabinovitch

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

“La prospérité du vie – une introduction (inquiete) à l’économie”, Daniel Cohen


Devo reconhecer que o subtítulo o diz com clareza – “Introdução” – mas mesmo assim esperava mais deste “La prospérité du vie – une introduction (inquiete) à l’économie”, de Daniel Cohen. Talvez as expectativas fossem demasiado altas ou talvez por ter acabado de ler uma outra obra sobre o mesmo tema bem mais interessante, achei esta um pouco fraca.
O que ela procura mostrar é que um fantasma percorre o Ocidente. O fantasma do declínio do domínio do Ocidente e o receio do crescimento do Oriente e dos países emergentes. É um tema que tem sido analisado em inúmeras obras, cada uma das quais aponta diferentes perspectivas e soluções.
Daniel Cohen analisa, em traços gerais, o desenvolvimento económico da humanidade. Relembra alguns pontos centrais, por vezes muito esquecidos, de alguns períodos históricos: o pragmatismo social e não tecnológico dos Romanos e a sua sociedade composta de 35% de escravos em Itália, o crescimento do rendimento per capita que foi multiplicado por três entre o período medieval e o sec. XVIII ou o período sangrento entre os meados do sec. XVI e os meados do sec. XVII.
No decorrer da descrição da evolução do mundo Ocidental surgem as referências aos autores económicos que moldaram cada época: Adam Smith, Malthus, Schumpeter, Keynes, etc. Talvez pouco desenvolvidos para a importância que tiveram em cada época no desenvolvimento das análises económicas.
O desenvolvimento da China e a Índia é também abordado, de forma interessante, questionando as contradições que o seu desenvolvimento vai fazendo surgir. Uma questão que o autor coloca é a de saber se é possível aplicar o modelo económico ocidental, amplamente consumista, a uma população de 1,45 mil milhões de chineses (em 2030). Se viessem a ter o índice de 3  carros por cada 4 pessoas, como no Ocidente, a área dedicada e as infra-estruturas necessárias á acessibilidade e a estacionamento ultrapassaria a área actualmente atribuída á cultura do arroz.
O autor recorda também pontos significativos para as análises da actual crise, como o a utilização do crédito para compensar a queda dos salários reais apesar dos aumentos de produtividade; o preço baixo dos produtos de consumo, criando a “economia do desperdício” e a sua contradição com os limites geológicos do planeta. Salienta também a transformação feita pelos accionistas das empresas dos prémios de carreira em prémios indexados aos valores bolsistas, as consequências da “subcontratação” crescente e o aparecimento de veículos e artifícios que deram um crescimento descontrolado ao capital financeiro, financiando a crédito operações de alto rendimento sem mobilização de fundos próprios.
Publicado em 2009, o livro tem necessariamente de deixar de fora todo o desenvolvimento da crise de 2008 e as perspectivas para a analisar de forma detalhada.
É leitura interessante, uma voz preocupada com o nosso futuro e com outras questões que não as meramente económicas. Apesar da ausência de uma completa bibliografia, aponta durante os diversos capítulos, alguns autores que podem ser outras leituras interessantes.
Apesar das características simples da obra foi uma leitura enriquecedora.

Título: "La prospérité du vice-une introduction (inquiète) à l'économie"
Autor: Daniel Cohen
Editora: Le livre de poche
2009
Pag. 313
ISBN: 9782253159650

A História e as praxes do Chá

Agora com o aproximar da época Outono/Inverno, um livro e uma chávena de chá:


encontrado aqui

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Edna O'Brien vence o prémio Frank O'Connor

Anteriormente banida na Irlanda,a autora irlandesa Edna O'Brien venceu o Prémio Frank O'Connor, no valor €35000, com a sua colectânea de contos   "Saints and Sinners".

O resto da notícia do Guardian pode ser lida aqui


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"The Pale King", David Foster Wallace


Pela primeira vez arrisquei ler um livro de um autor que desconhecia através de uma sua obra póstuma. Sempre entendi que, ou o autor a tinha plenamente acabada, ou se ela era criada pelos papéis, notas ou rascunhos deixados, era uma obra de outros e não dele.
De David Foster Wallace nunca tinha lido nada. Sabia do mito em que se tinha tornado o homem após o seu suícidio em 2008 e da inclusão do seu “Infinit Jest” na lista das obras míticas, muito pouco lidas mas imensamente faladas.
“The Pale King” é a sua obra póstuma. Após a sua morte, o seu agente Bonnie Nadell recolheu de sua casa 200 páginas arranjadinhas que estavam em cima da sua secretária. Michael Pietsch, da editora Little Brown & Co. que trabalhava com Wallace recolheu outras folhas perdidas em gavetas e cestos de papéis. Durante 2 anos dedicou-se á tarefa de organizar este “The Pale King”.
Um conjunto de personagens converge no IRS – Regional Examination Center em Pioria, Illinois. É no ambiente alienado do sistema fiscal americano que vamos conhecendo o passado destes personagens, neófitos no sistema, bem como o dos seus chefes, integrados no serviço há vários anos. É através de capítulos com estilos literários diferentes, em épocas temporais diferentes, que vamos criando a imagem deste sistema fiscal que é um mundo dentro do mundo em que vivemos. Um mundo sufocante, imensamente aborrecido para o qual somos arrastados pelas discussões internas que aí se sucedem numa linguagem esotérica com o seu calão próprio.
O que levou as personagens a entrar neste mundo? O que motivou David Wallace, nome verdadeiro do autor, que aí também trabalhou? Com as personagens estamos deitados em sofás freudianos até ao momento da sua chegada ao IRS. Salas e salas com secretárias, luzes de fluorescentes, apinhadas de montanhas de declarações fiscais, dia após dia. Do ambiente fordista da fábrica para o mundo alienado do colarinho branco. Recordamos Loyola Brandão no seu “Não conhecerá país nenhum”, onde o ex-professor universitário Souza conferia listas intermináveis de números emitidas por computadores. O aborrecimento é o senhor do romance, o seu personagem principal. “Pale King” é um romance sobre o ambiente. O ambiente substitui o enredo
Nos anos 80, o romance situa-se em 1985, o IRS americano vai enfrentar as mudanças impostas pelas políticas neo-liberais dos anos Reagan, dos cortes para permitir diminuição dos impostos, a privatização dos serviços públicos e as modificações impostas pela informatização dos serviços. A substituição da folha escrita pelo cartão perfurado. No interior extremam-se os campos, as chefias procuram impor os seus pontos de vista aos recém- chegados.
Big Q is whether IRS is to be essencially a corporate entity or a moral one”, diz Wallace nos seus apontamentos. Aquele mundo, por muito aborrecido que fosse, cumpria o seu serviço de redistribuição da riqueza na sociedade.
The birth agonies of the New IRS led to one of the great and terrible PR discoveries in modern democraciy, which is that if sensitive issues of governance can be made sufficiente dull and arcane, there will be no need for officials to hide or disassemble, because no one not directly involved will pay enough attention to cause trouble.”
O aborrecimento é o meio e a mensagem. Porque que é nos retraímos perante o aborrecimento? “…because dullness is intrinsically painfull.” E numa sociedade em que o aborrecimento atravessa o nosso dia-a-dia, nos transportes, na alienação do trabalho e das relações sociais, “ nas Tvs nas salas de espera, nas bichas dos supermercados, nos aeroportos, nos bancos traseiros dos SUVs. Walkemen, iPods, Blackberries, telemóveis que ligamos ás nossas cabeças. Este terror do silêncio.”
É cristalino quando diz “ I can’t think anyone really believes that today so-called ‘information society’ is just about information. Everyone knows is something else, way down.
Fredrick Blumquist, de 53 anos, funcionário há 30 anos, no IRS de Lake James, morreu de um ataque de coração, sentado á sua secretária, na sala que compartilhava com outros vinte e cinco colegas. Foi a uma terça-feira. Só foi encontrado no sábado á noite por um empregado de limpeza que estranhou vê-lo a trabalhar á secretária com a luz apagada. Este é o capítulo estruturante do romance.
“The Pale King” é ainda uma história sobre a incapacidade de comunicação: dos novos funcionários ao longo da sua vida, das chefias com os recém-chegados, dos homens no seu relacionamento com as mulheres. São opressivos os capítulos que recolhem estes diálogos.
Por ser uma obra póstuma abordei a leitura como se o romance fosse um livro de contos. Creio ter sido a melhor abordagem. Alguns absolutamente maravilhosos, com uma escrita lindíssima, outros tão desesperantemente aborrecidos que exigia quase um violento esforço físico para os concluir. Um dia um, noutro dia outro, até a atmosfera e a intenção do romance se ir tornando cristalina. Uma aventura fascinante.

The truth will set you free. But not until it is finished with you.
                                                                       David Foster Wallace

Título: The Pale King
Autor: David Foster Wallace
Editor: Little Brown and Company
Pags. 548
ISBN: 9780316178327

"Portugal e a Europa em Crise-para acabar com a economia de austeridade", vários autores


Vivemos verdadeiramente em tempos interessantes. Acabaram os tempos das águas paradas, na política, na economia e noutras áreas sociais. Os ventos são fortes e as vagas alterosas.
Não há gestor que se preze ou manual de motivação que não repita até á exaustão a máxima que a crise abre novas oportunidades. Se formos apenas seguir os títulos a negrito dos tablóides ou os mil repetidos sound bytes dos apresentadores ou comentadores da tele-economia, as oportunidades e os caminhos são os mesmos que os trouxeram á actual crise.
A oportunidade que aqui existe é a da procura de análises políticas e económicas do passado e de discussão de alternativas sólidas capazes de acabar com este vórtice de sacrifícios e miséria a que nos querem condenar.
“Portugal e a Europa em crise”, com coordenação de José Reis e João Rodrigues, recolhe artigos publicados na edição portuguesa do “Le Monde Diplomatique” entre 2008 e 2011.
Estamos portanto no centro do furacão. Os autores, economistas, de várias tendências, procuram analisar as razões da crise e soluções alternativas ás teorias actualmente dominantes.
Destacaria dois artigos, um pela abordagem de um problema que tem sido muito ocultado em Portugal e outro por referir, entre outros, a abordagem crua á ladainha de sair da crise exclusivamente com o aumento permanente das exportações.
A situação do imobiliário e Portugal é apresentada como preocupante apesar de quando se falar em bolhas imobiliárias europeias se falar apenas na Irlanda e na Espanha. A realidade nacional referida no artigo de que, em 2006, o crédito imobiliário representava 80% do crédito aos particulares e 56% do crédito ás empresas, mostra imediatamente o que vamos enfrentar. Ao mesmo tempo, o país, apresenta preços por metro quadrado idênticos ao da zona urbana de Berlim. É um mercado puramente especulativo, que tem grandes resistências, á mudança. Salienta ainda o autor, perante um panorama deste, a pouca atenção dada nas licenciaturas contemporâneas de economia, a esta área que está na base, em todo o mundo, da crise económica.
Outro autor analisa a nossa entrada na zona euro e as consequências que isso provocou numa economia como a nossa. E se a resposta aos primeiros sinais da crise foi a de intervenções maciças dos governos (leia-se contribuintes) no sistema bancário e estímulos á procura com intervindo em sectores e empresas e investimentos públicos de emergência, ela depressa acabou. Vale a pena reler a defesa, surpreendente, destes princípios feita pelos responsáveis da EU, Durão Barroso incluído. Foi de sol de pouca dura pois logo se começou a falar apenas da crise da dívida dos países, em especial dos chamados PIGS. Controlar a dívida a todo o custo e regressar ao equilíbrio orçamental é o missal actual.
O autor salienta ainda a contradição entre os problemas dos PIGS e a aflição dos chamados FUKD (França, Reino Unido e Alemanha). A crise não é nacional mas europeia dentro de uma crise mundial. A saída deve ser encontrada com racionalidade e equilíbrio, levando a reformulações do sistema monetário europeu, alterações na política do BCE e reforço político das instituições europeias.
Se um conjunto de teorias dominantes nos trouxe á crise porque é que devemos seguir as mesmas para tentar sair da crise? Os autores destes artigos procuram mostrar que há outros horizontes possíveis. Não caberá a eles mas sim aos actores políticos desenvolverem propostas claras e credíveis perante todos nós para aceitarmos essas alternativas. Talvez seja o que nos tem faltado nestes tempos interessantes que vivemos.

Título: "Portugal e a Europa em crise"
Autor: vários com coordenação de José Reis e João Rodrigues
Editor: Actual/Le Monde Diplomatique
Pags.: 202
ISBN: 9789896940218
Preço: 7 Euros

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

"Ten years later", Granta nº 116

"Ten years later" é o tema do número da Granta para o Verão de 2011.
10 anos depois do 11 de Stembro. Uma visão do mundo de hoje através dos textos, poemas e fotografias de vários autores.
Não é dos números com os textos melhor conseguidos mas é um número que nos faz pensar no que é o mundo de hoje. Não vamos encontrar as memórias daquele dia mas sim da face do mundo de hoje ligado aquela data.
Encontramos o relato do regresso de um soldado americano á sua terra e aos seus e como a sua visão da realidade é moldada pela sua vida no Iraque, o suícidio desesperado de Mohamed Bouazizi que levou á revolução na Tunísia e as torturas do regime de Mubarak, o vida de um detido em Guantanamo, a abordagem de uma fragata americana a um pesqueiro espião norte-coreano, a revolta na Líbia e um dos seus martíres, bem como fotografias da vida de refugiados em diversos países
Particularmente interessantes são "Punnu's Jihad" e "The Terminal Check". No primeiro temos o relato das contradições e da violência da vida nas zonas tribais do Paquistão. Um jovem paquistanês que decide ir para o Afeganistão ajudar os feridos vê-se, com a sua recusa em combater, como prisioneiro de um senhor da guerra loca. A sua fuga leva-o a uma mesquita onde, em vez de encontrar o refúgio, acaba por ser entregue ás tropas americanos a troco de um prémio.
No segundo, um correspondente da revista Time de origem indiana, vivendo há vários anos no Japão, é confrontado com os reforços securitários no aeroporto de Tokyo. Esse reforço de segurança aumentado nas viagens aéreas em todo o mundo e que tantos incómodos provoca nos seus amigos americanos contrasta com a sua vida inteira de ser discriminado e olhado de maneira diferente apenas pela cor da sua pele.
É sempre um prazer a chegada de cada número da Granta e a garantia de algumas semanas de agradáveis leituras.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

"Why the West rules for now", Ian Morris

Enfrentar uma obra de análise global da história é sempre um desafio que exige coragem. Não apenas para os clássicos como o “Declínio e Queda do Império Romano” ou “Um Estudo de História” de Arnold Toynbee mas também para as obras de autores contemporâneos.
Destes autores da actualidade, algumas obras são verdadeiramente apaixonantes, como é o caso de “Guns, Germs and Steel”, de Jaared Diamond  (existe tradução em português)  .Releio-a de cada vez como se fosse uma primeira leitura.
Surgiu recentemente “Why the West rules for now – the patterns of history and what they reveal about the future”, de Ian Morris.
Ian Morris é um arqueólogo de formação, Professor de Classicismo e História na Universidade de Stanford mas adiciona ás suas análises históricas componentes de outras disciplinas. Sempre considerei a arqueologia uma espécie de caboucos da história. Sem eles o edifício não tem sustentação. Os anos mais recentes trouxeram descobertas e análises muito interessantes para o estudo de evolução da Humanidade. Pena é que muitos dos locais de grande riqueza arqueológica estejam inacessíveis por guerras ou regimes despóticos ou ainda, como é o caso da China, por a arqueologia apenas agora começar a dar passos mais largos e a libertar-se de algumas grilhetas ideológicas.
Esta obra procura fazer um estudo comparado do desenvolvimento do Ocidente e do Oriente, explicar a razão porque, excepto num período á volta do ano 1100, o Ocidente tem estado á frente do Oriente e analisar as perspectivas para o futuro.
“ It was maps, not chaps that took West and East down different paths” é a tese central de Morris. Desenvolve para a sua análise um modelo de Desenvolvimento Social ( a capacidade das sociedade para fazer as coisas) que assenta em 4 variáveis: a captação de energia, a organização/urbanização, a capacidade para fazer a guerra e a tecnologia de informação.
Para Morris a mudança é o resultado de tempos de desespero que pedem medidas desesperadas ás pessoas: a origem da agricultura, o aparecimento das cidades e dos estados, a criação dos diferentes impérios, a revolução industrial, etc. A relação entre a geografia e o desenvolvimento social é uma estrada de duas vias: por um lado, o ambiente físico modela as mudanças de desenvolvimento social, por outro as mudanças de desenvolvimento social modelam o significado do desenvolvimento físico. Cada época consegue o pensamento cultural de que necessita ditado pelos problemas que o desenvolvimento geográfico e social força sobre elas.
Numa linguagem plenamente acessível aos leigos dos vários períodos históricos, polvilhado com humor, e com constantes exemplos, vamos percorrer 16000 de evolução da Humanidade, os seus Invernos, as suas promissoras Primaveras e os seus verões de São Martinho. Ao longo destes milhares de anos vamos compreender as razões do predomínio do Ocidente, as razões porque á volta dos anos de 1100, o Oriente suplantou o Ocidente, as consequências da abertura das auto-estradas atlânticas e o encerramento das auto-estradas das estepes, até chegarmos aos dias de hoje.
Para alguns, a razão do predomínio do Ocidente sobre o Oriente radica apenas no facto de que o primeiro é racional e dinâmico enquanto que o segundo é obscurantista e conservador. Morris analisa contudo que em determinados períodos o inverso é que foi verdadeiro lembrando também que sociedades que foram progressistas e inovadoras, caso do mundo muçulmano, se voltaram para dentro de si mesmo e deixaram de responder aos estímulos.
Como é que no presente podemos olhar para o futuro. Irá o mundo ficar completamente Ocidentalizado ou completamente Orientalizado? Mais hierarquizado, mais iliberal, mais estatista?
A proposta para analisar o futuro é a mesma para analisar o passado: através do índice de desenvolvimento social.
Durante 14000 anos este índice cresceu 900 pontos e Morris afirma que nos próximos 100 anos vai crescer mais 4000 pontos! No sec. XXI o desenvolvimento social ameaça subir tão alto que mudará a o significado da biologia e da sociologia como as conhecemos. Vamos enfrentar a maior descontinuidade da História.
Poderemos evitar uma “Nightfall( nome de um famoso conto de juventude de Asimov) e as suas alterações climáticas, as suas epidemias  e as suas guerras? E se assim for somos capazes de conceber hoje as formas do que irá aparecer? Mais do que querer saber se será o Ocidente ou o Oriente a terem a predominância mundial importará conceber como a Humanidade irá enfrentar as radicais mudanças que o mundo anuncia.
É um livro com lugar marcado em qualquer estante de livros de História daqui para a frente.

Terceiras Jornadas Llansonianas de Sintra



Com entrada grátis, de 24 a 25 de Setembro, no Palácio Valenças, em Sintra, vão ter lugar as Terceiras Jornadas Llansolianas de Sintra.

Os objectos da vida de Maria Gabriel Llansol poderão ser apreciados através dos diversos textos, performances e leituras cantadas ao longo dos dois dias das jornadas.
Programa detalhado aqui

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Oferta de desconto pré-publicação "Aves de Portugal"

Do sítio da Loja De História Natural:


Será publicado em Outubro de 2011 pela editora Lynx Edicions o novo livro "Aves de Portugal" com autoria de Helder CostaEduardo de Juana e Juan M. Varela. É um guia de campo para a identificação de aves em Portugal, escrito por especialistas e com a colaboração da SPEA-Sociedade Portuguesa de Estudo das Aves.

Até 30 de Setembro de 2011 a Loja de História Natural oferece-lhe a possibilidade de pré-adquirir este guia com 10% de desconto sobre o preço de capa de 20€, preço final já com IVA a 6% de 18€. O livro deverá iniciar distribuição a partir de 15 de Outubro de 2011. Esta oferta supera a oferta de 5% feita pelo site da Editora Lynx e tem a vantagem de sermos nós a custear o envio para a nossa loja e a absorver a diferença de IVA entre Portugal e Espanha (o envio para outros locais de Portugal a partir da loja terá o custo adicional dos portes).

Este guia de campo contém informações detalhadas e actualizadas sobre as espécies presentes em Portugal continental, Arquipélago dos Açores, Arquipélago da Madeira e Selvagens.

Muito mais do que uma simples tradução, este guia abordará todas as espécies com presença regular no nosso território e inclui um apêndice com informação sobre espécies de ocorrência acidental. Foram criados textos e 257 mapas detalhados de raiz com informação sobre populações e distribuição ao longo do ano, separada para Continente e Ilhas. Este guia inclui ainda 90 telas a cores que mostram as principais características de identificação de todas as espécies presentes.

Pode fazer a pré-aquisição da sua cópia com desconto directamente na loja ou por telefone 210 998 725 ou email lojadehistorianatural(a)gmail.com com pagamento por transferência bancária até 30 de Setembro de 2011.

Aves de Portugal

sábado, 3 de setembro de 2011

Novos livros para Setembro

Com a devida referência a trabalho do Ciberescritas onde se encontra o texto original eis uma lista de novos livros a serem apresentados em Setembro:

“O Segundo Avião”, de Martin Amis (Quetzal). Artigos escritos nos anos que se seguiram ao 11 de Setembro.
“Não Tenho Inimigos, Não Conheço o Ódio” do Prémio Nobel da Paz 2010, Liu Xiaobo (Casa das Letras). Ensaios sobre o papel emergente da China no contexto internacional e um surpreendente conjunto de poemas.
“Da China”, de Henry Kissinger (Quetzal). O Prémio Nobel da Paz 1973 revela, pela primeira vez em livro, o seu profundo conhecimento da China, cujas relações com o Ocidente ajudou a modelar. Recorre a registos históricos e a conversas que manteve com líderes chineses ao longo de décadas.
“O Estado do Egipto”, de Alaa Al Aswany (Quetzal). O romancista egípcio analisa o que levou ao derrube do regime de Mubarak, e levanta uma série de questões.
“Uma Mentira Mil Vezes Repetida”, de Manuel Jorge Marmelo (Quetzal). Para escapar ao anonimato de uma vida comum, à solidão da escrita e ao esquecimento dos futuros leitores, o narrador deste novo romance de Marmelo inventa uma obra monumental, um autor – um judeu húngaro com uma vida aventurosa – e uma miríade de personagens e de histórias que narra entusiasticamente a quem, ao pé dele, se senta nos transportes públicos do Porto.
“A Educação Sentimental dos Pássaros”, de José Eduardo Agualusa (D. Quixote). Onze contos. A uni-los, uma mesma preocupação sobre a origem e a natureza do mal. “Como é que o pequeno Jonas se transformou em Savimbi? O que move Hillary?”
“A Sul. O Sombreiro”, de Pepetela (D. Quixote). Ambientado nos primórdios do colonialismo, este romance revela uma época desconhecida da história de Angola (séculos XVI e XVII). Começa assim: “Manuel Cerveira Pereira, o conquistador de Benguela, é um filho da puta.”
“Comissão das Lágrimas” de António Lobo Antunes (D. Quixote). Tem como personagem principal Virinha, que foi dirigente do destacamento feminino das FAPLA (antigas Forças Armadas Angolanas) na parte final da Guerra Colonial. Numa entrevista que deu ao jornal brasileiro “O Estado de S. Paulo”, em Maio do ano passado, Lobo Antunes explicou: “É a voz de Elvira, conhecida como Virinha, que foi presa em Angola em 1977, quando o país, recém-independente de Portugal, enfrentava problemas internos”. Elvira, que esteve à frente do batalhão feminino do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), foi uma das 80 mil pessoas mortas sob suspeita de contestar Agostinho Neto. Lobo Antunes contou que os pulsos de Elvira foram amarrados com arame e os tornozelos atados nas costas, que a levantaram a uma altura de dois metros e a soltaram repentinamente tendo o seu corpo batido no chão: “Mas, mesmo torturada, Elvira não parou de cantar, só quando morreu.”
“Adornos”, de Ana Marques Gastão (D. Quixote). Novo livro de poesia.
“Vozes” de Ana Luísa Amaral (D. Quixote). Novo livro de poesia.
“A Grande Casa” de Nicole Krauss (D. Quixote), considerada, em 2007, uma das melhores jovens escritoras britânicas pela revista “Granta”. Uma história suspensa entre duas perguntas: “o que é que transmitimos aos nossos filhos e como é que eles absorvem os nossos sonhos e perdas? Como podemos responder ao desaparecimento, à destruição e à mudança?”
“A Bofetada” de Christos Tsiolkas (D. Quixote). Vencedor do Commonwealth Prize 2009. Viagem caleidoscópica e inquietante aos limites do amor, do sexo, do casamento e da família. Adaptado para série de TV.
“O Filho de Mil Homens”, de valter hugo mãe (Alfaguara). Romance que inicia um novo ciclo na criação literária do Prémio José Saramago 2007.
“O Mapa e o Território” de Michel Houellebecq (Alfaguara). Recebeu o prémio o Goncourt em 2010. É uma obra sobre a solidão e a velhice. Nela, Houellebecq leva mais longe a sua paródia: o escritor e o seu cão, personagens do romance, são violentamente assassinados.
Fragmentos” de Marilyn Monroe (Objectiva). Livro onde se compilam notas pessoais (algumas escritas em blocos de notas de hotéis), poemas, cartas e fotografias, documentos inéditos que são tornados públicos pela primeira vez.
“A mulher do Tigre” de Tea Obreht (Presença). Obra vencedora do prémio Orange 2011, da autora que foi considerada pela revista “The New Yorker”, uma das 20 melhores escritoras americanas com menos de 40 anos.
“Os Imperfeccionistas”, de Tom Rachman (Presença). Romance que revela os bastidores da redacção de um jornal em Roma, numa altura em que a imprensa sofre o impacto das transformações ditadas pelas novas tecnologias.
“Poemas Novos e Velhos”, de Helder Macedo (Presença).
“Construir o Inimigo” de Umberto Eco (Gradiva). Ensaio inédito do autor italiano sobre temas como o Absoluto, o Fogo, o porquê de chorarmos a sorte de Anna Karenina, as astronomias imaginárias, os tesouros das catedrais, Victor Hugo e seus excessos, o mecanismo do reconhecimento no folhetim, a ventura ou desventura de Joyce na época fascista, etc.
“O Grande Inquisidor”, de João Magueijo (Gradiva). A vida extraordinária de Ettore Majorana pelo físico português.
“Antes de Dizer Adeus”, de David Servan-Schreiber (Lua de Papel). Livro testamento do autor de “Curar e Anticancro”, que morreu a 24 de Julho. O cancro, os conselhos que deu nos livros anteriores e a morte.
“Tudo tem um Preço”, de Eduardo Porter (Lua de Papel). O jornalista do “The New York Times” analisa as diferenças de preços entre os diversos países e culturas, e os efeitos que a procura tem no preço e vice-versa.
“Uma Estratégia Para Portugal”, de Henrique Neto (Lua de Papel). O primeiro livro do fundador da Ibermoldes e ex-deputado do partido Socialista.
“Não Podemos Ver o Vento”, de Clara Pinto Correia (Clube do Autor). É um novo romance da escritora que recupera a nossa presença em África nos anos 70 através da história de uma psicóloga e de um paciente.
“The Man who Broke into Auschwitz”, de Denis Avery (Clube do Autor). Testemunho de um soldado britânico que conseguiu infiltrar-se em Buna-Monowitz, o campo de concentração conhecido como Auschwitz III. Só agora, aos 90 e tal anos, Denis Avery decidiu contar a experiência, 60 anos depois dos acontecimentos.
“Rashomon e outras histórias”, de Ryunosuke Akutagawa (Cavalo de Ferro). Contos de um dos escritores mais importantes da literatura japonesa que inspiraram o famoso filme de Akira Kurosawa, “Às Portas do Inferno”.
“Arde o musgo cinzento”, de Thor Vilhjálmsson (Cavalo de Ferro). É considerado o melhor escritor islandês vivo e neste romance recupera dos arquivos uma história real em que mostra a opressão que a sociedade pode exercer sobre aqueles que infringem as suas regras.
“Romances”, volume que reúne os dois únicos romances de Flannery O’Connor: “Sangue Sábio” e “O Céu é dos Violentos” na Cavalo de Ferro.
“Manifesto Anti-Americano”, de Ted Rall (Verbo). O colunista do “The New York Times” e cartoonista escreveu uma obra polémica, desde que foi saiu há um ano já foi publicado em 30 países. Propõe uma mudança total do sistema sócio-político americano através da revolução.
“Como nos livramos do Euro?”, de Jean-Jacques Rosa (Alêtheia), o economista que foi director e fundador do programa de MBA do Institut d’Études Politiques (1993-2008).
“Adúltero Americano” de Jed Mercúrio (Civilização). O protagonista deste romance é um mulherengo inveterado. Precisa de se esforçar extraordinariamente para esconder as suas aventuras dos rivais políticos – e tem boas razões para fazê-lo. Trata-se de John Fitzgerald Kennedy.
“Vida Privada”, de Jane Smiley (Civilização). Um romance da vencedora do Prémio Pulitzer, que conta a história íntima de uma mulher, Margaret Mayfield ,de finais do século XIX à II Guerra Mundial.
“Sofia Tolstoi – Uma Biografia”, de Alexandra Popoff (Civilização). Sofia Tolstoi conheceu a fama mas também a alienação durante os quarenta e oito anos em que esteve casada com Tolstoi. Baseado em material de arquivo recentemente disponibilizado, incluindo os diários inéditos de Sofia.
“Na Rua Árabe”, de Nuno Rogeiro (D. Quixote). As revoltas no Médio Oriente analisadas à lupa numa altura em que se celebram 10 anos do 11/9.
Uma Vasta e Deserta Paisagem”, de Kjell Askildsen (Ahab), um livro de contos inquietantes que recebeu o Prémio da Crítica norueguesa.
“Xeque-Mate a Goa”, de Maria Manuel Stocker (Texto). Resultou de um projecto de investigação orientado por António Barreto que assina o prefácio – explica como é que a União Indiana tentou integrar Goa no seu território desde 1947, mas só o conseguiu em 1961. Venceu o Prémio Aristides de Sousa Mendes.
“Os Reis da Reconquista Portuguesa”, de Stephen Lay (Texto). O professor de Oxford explica como Portugal se tornou um reino independente entre os séculos XI e XIII fazendo um retrato dos primeiros cinco governantes.
“Ferrugem Americana” de Philipp Meyer (Bertrand). O escritor está na lista dos melhores 20 escritores com menos de 40 anos da “The New Yorker”. Sobre este livro, que é sobre o fim do sonho americano, Michiko Kakutani, do “The New York Times” escreveu: “A chegada de um novo escritor cheio de talento.”
“Rasto Negro de Sangue”, de Joseph O’Neill (Bertrand). É a história da família do autor de “Netherland- Terra de Sombras”.
“Diário de uma Viagem à Rússia em 1867”, de Lewis Carroll (Teorema). Publicado originalmente em 1935. Esta deverá ter sido a única viagem do escritor ao estrangeiro.
“O Homem” e “A Máquina de Klaus Klump”, de Gonçalo M. Tavares. É uma nova versão, conjunta, dos romances “Um Homem: Klaus Klump” e “A Máquina de Joseph Walser” pertencentes ao Reino. É uma reedição de um livro que foi feito primeiro em exclusivo com a FNAC e que agora é alargada pela Caminho ao resto do mercado. O autor descreveu-o assim: “São duas narrativas que têm exactamente o mesmo centro e que nesta nova versão, lidas em paralelo e em conjunto, darão espaço, julgo, para diferentes leituras”.
“Se eu fechar os olhos agora”, de Edney Silvestre (Planeta). O primeiro romance do jornalista brasileiro que em 2010 recebeu o Prémio Jabuti na categoria de Melhor Romance. A história passa-se numa pequena cidade da antiga zona do café fluminense, em Abril de 1961, quando dois meninos de 12 anos encontram o corpo de uma mulher, que foi morta e mutilada, nas margens de um lago.
“O Princípe da Neblina” de Carlos Ruiz Záfon (Planeta). Numa aldeia da costa sul inglesa durante o Verão de 1943, três jovens enfrentam um diabólico personagem.
“Tentativa e erro”, de José Alberto Oliveira (Assírio & Alvim). Poemas escolhidos e inéditos.
“Caminharei pelo vale da sombra”, de José Agostinho Baptista (Assírio & Alvim). Poesia inédita.
“Diapsalmata”, de S. Kierkegaard (Assírio & Alvim). Tradução do dinamarquês. Notas de Bárbara Silva, M. Jorge de Carvalho, Nuno Ferro, Sara Carvalhais, posfácio de M. Jorge de Carvalho, Nuno Ferro.
O novo livro da colecção de literatura de viagens dirigida por Carlos Vaz Marques na Tinta-da-China: “Viagem de Autocarro”, do escritor catalão Josep Pla. “Ao longo de cem quilómetros de poesia e humor, Pla conduz-nos através de uma deliciosa espontaneidade, mas que não exclui as reflexões mais profundas”, lê-se na contracapa.
Para 15 de Setembro, na FNAC Chiado, às 21h, está marcado o lançamento de “Diamantes de Sangue – Corrupção e Tortura em Angola”, do jornalista angolano Rafael Marques (Tinta-da-China) que virá a Lisboa. O livro é uma investigação sobre personalidades, instituições e empresas envolvidas no negócio dos diamantes e inclui o testemunho de centenas de vítimas.
“Um Tigre nas Florestas da noite”, de Margaux Fragoso (Porto Editora) Num dia de Verão, Margaux Fragoso conhece Peter Curran numa piscina pública e os dois começam a brincar. Ela tem sete anos, ele cinquenta e um.  Uma história de pedofilia contada pela vítima (Peter suicidou-se e pediu a Margaux para que contasse a história dos dois). Margaux Fragoso concluiu recentemente um Doutoramento em Inglês e Escrita Criativa na Universidade de Binghamton. Os seus contos e poemas foram publicados em diversas revistas literárias, como o The Literary Review e o Barrow Street. Os direitos de tradução  foram já vendidos para mais de vinte países.
“O Centenário que fugiu pela Janela e Desapareceu” de Jonas Jonasson (Porto Editora).  O segundo romance do escritor sueco.
“Apocalypse Baby” de Virginie Despentes (Sextante). Prémio Renaudot 2010.  Um road book entre Paris e Barcelona, em busca de Valentine, uma adoelescente enigmática e difícil que está desaparecida.
“Mister Gregory” de Sveva Casati Modignani (Porto Editora) Pela primeira vez um romance de Sveva tem um protagonista masculino.
“1961 – O ano que mudou Portugal”,  de João Céu e Silva (Porto Editora) Um relato diário do ano de 1961, fundamentado com uma série de depoimentos de protagonistas políticos importantes, historiadores, militares e escritores.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Listas, listas e mais listas...

Listas, listas e mais listas. Uma permanente relação de amor e ódio.
Quando as encontramos ficamos arrepiados. É mais uma. Mas não se resiste e quando a começamos a ler logo pensamos nas alterações que lhe poderíamos  fazer .É inevitável.
Aqui fica mais uma publicada pelo Guardian: a lista dos 100 melhores livros de não-ficção.
Quem lhe resiste?
Ficam as sugestões para cada um.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

"Feed", Mira Grant

Mira Grant e o seu romance “Feed” foi um dos finalistas do Hugo Awards de 2011. Mira Grant é o pseudónimo para este romance de zombies de  Seanan McGuire, uma autora de ficção fantástica urbana com várias novelas publicadas.
Que tipo de história se poderia esperar de uma mulher que vive numa casa com diversos gatos, filmes de terror, comics e livros sobre doenças terríveis, dirige cursos de virologia e dorme com uma machadinha debaixo da almofada? Um romance sobre Zombies, claro!
“Feed”, á parte um capítulo inicial sobre um ataque de Zombies e outras cenas semelhantes, não é propriamente um romance em que os zombies são personagens centrais. Eles são o pano de fundo em que o tema se desenvolve.
Numa daquelas situações em que a humanidade quer ser mais esperta do que qualquer Criador, um vírus é libertado que transforma em zombie qualquer mamífero acima de um determinado peso.
Um grupo de jovens bloggers é convidado para acompanhar um dos candidatos republicanos americanos nas primárias e depois na corrida presidencial.
O thriller que se desenvolve envolve os habituais complots pelos derrotados e grandes poderes, traições imprevisíveis, acção em grandes doses e mortes heróicas.
“Feed” lê-se com desenvoltura e agrado mas sempre com a sensação que muito mais poderia ter sido tentado.
Numa sociedade que tem de viver com gigantescas medidas securitárias como ficam os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Quais são os grandes temas da sociedade pré-zombie que desapareceram e quais os que apareceram para os substituir? O gigantesco folclore das campanhas presidências americanas pode continuar a existir ou tem de dar lugar a outras formas de comunicação e angariação de fundos?
Alguns destes temas surgem ao longo desta acção política que vai atraindo o leitor. As personagens, talvez demasiado previsíveis, são todavia muito emocionais. A tão debatida questão de saber se a imprensa tradicional vai substituída pelos bloggers com a sua parafernália tecnológica é também um dos temas centrais do livro que curiosamente mostra a eterna procura dos índices de audiência e de vendas transportada agora para o mundo da internet.
São os homens os verdadeiros vilões da história e não os zombies. Estes são apenas as novas armas nas mãos dos que procuram a conquista do poder por qualquer meio.
Este é o primeiro volume desta trilogia de Mira Grant. Aguardemos para ler os restantes e ver se a autora consegue manter uma acção aditiva com personagens menos estereotipados e previsíveis e se surgem temas mais desenvolvidos neste nova sociedade de infectados pelo vírus.

Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro


daqui

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

De Rerum Natura: Lançado no Brasil livro sobre o Padre Inventor

O primeiro livro da coleção "Brasiliana da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra", destinada a divulgar documentos desta biblioteca que interessam à História do Brasil, é lançado terça-feira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

De Rerum Natura: Lançado no Brasil livro sobre o Padre Inventor

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"The Dervish House", Ian McDonald

Mesmo nos países que nunca consideraram o romance de ficção cientifica um  sub-género menor da literatura, houve momentos em que parecia que todas as opções e caminhos estavam esgotados e o que o seu lugar seria definitivamente ocupado pela Fantasia e pelo Fantástico.
Os últimos anos mostram, pelo contrário, a vitalidade do género e dos seus autores. Para citar apenas dois recordem-se “The gone away world”, de Nick Harkaway e “The windup girl”, de Paolo Bacigalupi.
Mais recentemente foi publicado o excelente “The Dervish House” de Ian McDonald, finalista dos Hugo Awards 2011 e que já nos tinha surpreendido com “Brasyl” e “River of Gods”.
É um romance de amor pela secular Istambul. Muitas vezes temos de confirmar na capa se não nos teríamos enganado e estávamos a ler algum livro de Orhan Pamuk.
As vidas de um especulador da bolsa de futuros do gás e da sua mulher negociante de antiguidades, de um ex-professor grego de economia, de uma criança com uma doença cardíaca e que aspira a ser detective e de um jovem com um passado turbulento, vão-se cruzando por uma Istambul que só percebemos ser a de 2027 pela irrupção de robôs que se transformam de macacos em pássaros ou cobras, por bitbots policiais que são as novas polícias de choque, pelos estranhos dispositivos que substituíram os telemóveis e pelos nano robôs que substituem o algodão no vestuário.
Neste futuro/presente a Turquia integra a União Europeia e a economia turca rende-se ao sistema económico europeu mas continua a ser uma ponte entre dois continentes. O lastro de um imenso passado continua a pesar sobre o presente/futuro, as minorias étnicas – os gregos, por exemplo - são cada vez mais minoritárias sem abandonar os seus modos de vida seculares e o poder continua a ser sufocante sobre o dia-a-dia dos cidadãos.
O misticismo e as religiões, nas suas diversas formas, são como um imenso lago que a todos banha e onde navegam os novos terrorismos agora já não são fanatismos religiosos mas místicos tecnológicos. As histórias de amor, e as separações continuam a existir como sempre existiram ao longo dos séculos, atravessando revoluções e traições.
Istambul otomana com as sua casas seculares casas de madeira – Dervish House -, dos descendentes de seitas religiosas secretas que são apenas referências em histórias passadas oralmente, dos novos edifícios do capital financeiro e dos euros europeus e o Bósforo, sempre o Bósforo, visto ou apenas apercebido através dos sentidos e as suas pontes que ligam a Europa Ásia..
Podem mudar as formas das super-estruturas políticas e religiosas, o capitalismo financeiro pode encontrar novos disfarces, a tecnologia pode adquirir novos e aterradores caminhos mas os sentimentos básicos e estruturantes do Homem atravessam, inalteráveis, o passado, o presente e o futuro. São omnipresentes, limitando-se a adaptar-se aos novos ambientes da História e á cidade sempre eterna: Istambul.
“The Dervish House” é a história de amor por Istambul e pela diversidade humana que contém.

Pilhas de livros



daqui

sábado, 20 de agosto de 2011

Filmes futuristas - uma infografia

"Vi o filme, não li o livro". Acontece muito mas grandes filmes baseiam-se muitas vezes em grandes livros.
Esta é uma infografia de filmes futuristas. Nela encontro o que mais gosto-  "Blade Runner" - retirado de um grande livro: "Do Androids dream of electric sheep" do grande Philip K. Dick.

retirada daqui

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"Heart of Europe - the past in Poland´s present", Norman Davies

Mesmo daqueles países que mais nos influenciaram conhecemos apenas largas pinceladas das suas histórias: França, Inglaterra, Alemanha, Espanha.
De outros no nosso continente as suas histórias são tão desconhecidas como a de longínquos países
É o caso da história da Polónia. É uma história fascinante em especial para quem, como nós, tem um passado de largos séculos em fronteiras estáveis.
Norman Davies, é autor de “God’s playground”, uma exaustiva História da Polónia em dois volumes. Em 1980 publicou “Heart of Europe – the past in Poland’s present” que é uma abordagem resumida da História da Polónia. Divulgada no Ocidente, só em 1992 viria a ser publicada na Polónia que até aí apenas a conhecia através do poucos volumes que conseguiam passar a fronteira.
Com uma abordagem pouco ortodoxa – o relato vai fluindo do presente para o passado para regressar ao presente – a obra dá-nos os traços essenciais desta Polska (Polónia) que só emerge no inicio do sec. X e apenas como os domínios de uma pequena tribo eslava (Polanie) – “o povo dos campos abertos”, nas margens do Warta, perto da moderna Poznán.
Apesar de deixar de fora da obra alguns aspectos da história que mereciam ser desenvolvidos, Davies procura responder a uma questão central: como é que este país, tantas vezes e durante tantos anos retalhado entre outros países, conseguiu manter a sua identidade polaca e renascer como nação independente?
A análise de anos marcantes da Polónia levanta algumas questões interessantes.
Um deles é o que se inicia com o casamento de Jadwiga (1384) com o Grão-Duque da Lítuania. A Lituânia medieval era um dos últimos reinos pagãos da Europa. Este casamento de uma mulher de um reino de orientação católica vai originar 187 anos que o autor considera serem a experiência formadora da história polaca. É este reino que irá enfrentar, anos mais tarde, a expansão moscovita para ocidente.
Outro aspecto interessante é a constituição da República Unida Polónia-Lituania, através do Tratado de Lublin, em 1569. A nobreza, que no resto da Europa constituía apenas 1 a 2% da população mas que na polónia atingia entre os 8 e 12%, celebra um acordo de entendimento em que o rei, escolhido entre eles e não hereditário, se transforma numa espécie de director ou gerente do reino. E é neste período que podemos ver evoluir a contradição entre a introdução da servidão no reino e esta nobreza.
O fim desta Republica, em 1795, e a divisão do território entre a Rússia, Áustria e a Prússia é considerado um dos momentos pungentes da história polaca.
A 5 de Novembro de 1916 é criado o Reino da Polónia e no inicio da 1ª Grande Guerra não havia ninguém vivo que tivesse a recordação de um tempo em que a Polónia era um estado independente. A criação da II República polaca foi também de curta duração.
A invasão nazi da Polónia e a aniquilação dos judeus e outros grupos étnicos causa uma transformação profunda na sociedade ao colocar os católicos como o grupo largamente maioritário. Enquanto as baixas da 2ª Guerra Mundial foram de 0,9% no Reino Unido, 2,5% no Japão, 7,4% na Alemanha, 11,1% na URSS na Polónia elas foram de 18%. É toda uma geração de praticamente desaparece.
Depois seguiram-se os anos em que a Polónia integra o espaço soviético e alteração completa da sociedade, a criação do Sindicato Solidariedade e da sua proibição e a queda do Muro de Berlim e o regresso da Polónia ao seu lugar na  Europa.
Apesar de a geografia a colocar a leste a ligação intensa a ocidente percorreu todos os séculos da história da Polónia.
Os polacos foram divididos entre vários países, foram obrigados a jurar diversas bandeiras, foram dirigidos por pessoas desligadas dos mais profundos sentimentos da sociedade, espalharam-se pelo mundo – no período de Febre Brasileira de 1880 houve 100 000 candidatos das províncias polacas – e no entanto mantiverem sempre a sua ideia de ser polacos.
Segundo o autor foi a cultura polaca o maior tesouro da nação e a sua última linha de defesa. Foi ela que lhes permitiu enfrentar os intensos conflitos morais que foram surgindo na vida polaca. A questão da cultura e também da língua são profusamente analisados por Davies ao longo desta sua obra e constituem o seu aspecto mais interessante.
Os aspectos da integração da Polónia no Bloco de Leste são os maiores blocos constitutivos da obra e mesmo nos capítulos acrescentados depois da 1º edição de 1980 a eles se regressa. Para quem procure abordagens mais detalhadas de outros períodos históricos isto pode parecer ser demasiado mas é perfeitamente compreensível.
Quem quiser conhecer este imenso país que tão grande lugar irá necessariamente ocupar na UE tem aqui uma obra essencial. Bem escrita, inteligente, abrindo imensas pistas para a cultura polaca. Vai ocupar um lugar de destaque entre os livros de história que releio.

Heart of Europe - the past in Poland's present
Norman Davies
Oxford University Press
2001
Pags. 483
ISBN 9780192801265