Quando gostamos de um romance de um autor que não conhecíamos e procuramos avançar na sua obra temos, por vezes, uma desilusão. Descobri Adam Roberts com “Salt” – de que gostei -, avancei para “The snow” – que me soube a pouco - e avancei agora para “The New Model Army”.
O título faz-nos pensar, é claro, nos anos de 1640, em Inglaterra, quando o mundo estava virado do avesso e o exército era um viveiro de organização e a verdade de discussão era um fermento para o aparecimento das mais variadas ideias políticas. De um exército de conscritos passou a ser um exército de voluntários, especialmente nos seus escalões superiores.
Num futuro próximo temos aqui o relato de Pantagrel, membro do New Model Army (NMA) sobre os combates deste novo exército contra a organização militar clássica inglesa. O que o autor pretende equacionar é saber como é que nos tempos actuais, com as novas tecnologias e organização em rede, novas formas democráticas mais activas podem surgir.
Este NMA vai-se organizando em vários países do mundo. Pantagrel faz parte deste NMA, contratado pela Escócia, para combater as forças inglesas. É um exército sem chefes, sem a estrutura hierárquica clássica, organizado em volta de redes sem fios que interligam os seus membros. As decisões são tomadas através de votos maioritários, caso a caso, através dessas redes. O campo de batalha vai sendo actualizado permanentemente online.. O NMA faz-se e desfaz-se quando é necessário. Uma versão maoísta do exército no tempo das redes sociais.
O relato de Pantagrel vai discorrendo sobre os combates, as carnificinas, os amores e as traições e as suas próprias mudanças de bandeira entre o NMA, o exército regular e outra vez o NMA. Acaba detido e utilizado pelos eternos salvadores das forças americanas.
Acaba transformado por eles numa nova ama para destruir os outros NMA que proliferam numa União Europeia. Um isolado programador informático transforma-o em algo mais, numa nova entidade, capaz de neutralizar todas as forças.
Uma especulação sobre a maneira como as novas formas de organização em torno de redes sociais e novas formas de democracia participativa abre muitos percursos interessantes mas aqui cai-se em muitas incongruências e lugares-comuns. A guerrilha vietnamita dissolvia-se nas populações mas coexistia com um exército de características regulares, organizado e devidamente equipado. Esta NMA dissolve-se em sociedades urbanas sem se perceber como se armam, como se abastecem – nos hipermercados? –ou como desenvolvem as redes logísticas.
A evolução da história cai num impasse de que sai com um tropeção.
Exercício de meditação sobre a procura de novas formas de democracia representativa que se vai, pouco a pouco, desmoronando. É pena num escritor de escrita fluida e motivadora. Esperemos mais sucesso num próximo romance.
New Modern Army
Adam Roberts
2010
Gollancz
Pag. 281
ISBN 9780575083639
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