Alguns acontecimentos parecem cair no nevoeiro do esquecimento da história universal, excepto nos países a que dizem respeito. É o que se verifica com o que aconteceu em Inglaterra nos anos de 1630-1650.
Guerra civil inglesa ou guerra dos três reinos? Só esta hesitação em que a historiografia ainda balança dá a ideia da complexidade do período.
Michael Braddick “God’s Fury, England’s Fire – a new history of the english civil wars” é uma sólida análise ao período em questão. Aparentemente, no título, parece tomar partido por uma das correntes, todavia ele não esquece os acontecimentos nos outros reinos – a Escócia e a Irlanda – centrando é a sua análise nos acontecimentos em Inglaterra.
Não é um livro de história para aqueles que acham que os relatos e as análises histórias devem ser simples e de preferência ilustrados com uma gravuras bonitinhas. È uma obra complexa e exigente para gente interessada em pensar e desenvolver novas análises.
Aparecem as grandes batalhas do período, ás vezes demasiados breves para a importância que tiveram, mas aparece sobretudo a intensa luta política e a evolução dos diversos participantes envolvidos, os seus avanços e recuos.
Adopta uma forma cronológica e temática discorrendo sobre as políticas das reformas, as guerras dos Bispos, as posições assumidas pelo Longo Parlamento, a rebelião irlandesa, o julgamento e execução de Carlos I. Fica de fora o que se seguiu, desde a abolição da monarquia e da Casa dos Lordes bem como a expropriação dos grandes proprietários e as alterações na propriedade rural. Fica de fora também a restauração e a repressão violenta que se seguiu mas a vasta bibliografia mostra bem que a memória daqueles anos em que o mundo esteve voltado ao contrário perdurou durante muitos anos.
Impressionantes as múltiplas descrições de como os diversos participantes recorriam á imprensa, volantes e folhetos para expor as suas ideias e defender os seus pontos de vista.
Imersos num mundo de jornais, televisões, rádios, agregadores de notícias, blogues, facebooks e twitters, não deixamos de ficar espantados ao saber que um livreiro inglês, George Tomason, tenha coleccionado mais de vinte mil folhetos durante os anos de 1640 a 1660. Foi um fervilhar de ideias imenso que surgiu com a abolição da censura e que acabaria mais tarde com o seu regresso na restauração.
Talvez que a criação e a evolução do New Model Army apareça um pouco relegada para um canto nesta obra mas não é isso que a transforma numa obra menor. É um livro que iniciados exigentes ou especialistas vão considerar indispensável na historiografia deste período.
“God’s Fury, England’s Fire – a new history of the english civil wars
Michael Braddick
Penguin Books
2009
Pags. 758
ISBN 978014100897
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