sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"Heart of Europe - the past in Poland´s present", Norman Davies

Mesmo daqueles países que mais nos influenciaram conhecemos apenas largas pinceladas das suas histórias: França, Inglaterra, Alemanha, Espanha.
De outros no nosso continente as suas histórias são tão desconhecidas como a de longínquos países
É o caso da história da Polónia. É uma história fascinante em especial para quem, como nós, tem um passado de largos séculos em fronteiras estáveis.
Norman Davies, é autor de “God’s playground”, uma exaustiva História da Polónia em dois volumes. Em 1980 publicou “Heart of Europe – the past in Poland’s present” que é uma abordagem resumida da História da Polónia. Divulgada no Ocidente, só em 1992 viria a ser publicada na Polónia que até aí apenas a conhecia através do poucos volumes que conseguiam passar a fronteira.
Com uma abordagem pouco ortodoxa – o relato vai fluindo do presente para o passado para regressar ao presente – a obra dá-nos os traços essenciais desta Polska (Polónia) que só emerge no inicio do sec. X e apenas como os domínios de uma pequena tribo eslava (Polanie) – “o povo dos campos abertos”, nas margens do Warta, perto da moderna Poznán.
Apesar de deixar de fora da obra alguns aspectos da história que mereciam ser desenvolvidos, Davies procura responder a uma questão central: como é que este país, tantas vezes e durante tantos anos retalhado entre outros países, conseguiu manter a sua identidade polaca e renascer como nação independente?
A análise de anos marcantes da Polónia levanta algumas questões interessantes.
Um deles é o que se inicia com o casamento de Jadwiga (1384) com o Grão-Duque da Lítuania. A Lituânia medieval era um dos últimos reinos pagãos da Europa. Este casamento de uma mulher de um reino de orientação católica vai originar 187 anos que o autor considera serem a experiência formadora da história polaca. É este reino que irá enfrentar, anos mais tarde, a expansão moscovita para ocidente.
Outro aspecto interessante é a constituição da República Unida Polónia-Lituania, através do Tratado de Lublin, em 1569. A nobreza, que no resto da Europa constituía apenas 1 a 2% da população mas que na polónia atingia entre os 8 e 12%, celebra um acordo de entendimento em que o rei, escolhido entre eles e não hereditário, se transforma numa espécie de director ou gerente do reino. E é neste período que podemos ver evoluir a contradição entre a introdução da servidão no reino e esta nobreza.
O fim desta Republica, em 1795, e a divisão do território entre a Rússia, Áustria e a Prússia é considerado um dos momentos pungentes da história polaca.
A 5 de Novembro de 1916 é criado o Reino da Polónia e no inicio da 1ª Grande Guerra não havia ninguém vivo que tivesse a recordação de um tempo em que a Polónia era um estado independente. A criação da II República polaca foi também de curta duração.
A invasão nazi da Polónia e a aniquilação dos judeus e outros grupos étnicos causa uma transformação profunda na sociedade ao colocar os católicos como o grupo largamente maioritário. Enquanto as baixas da 2ª Guerra Mundial foram de 0,9% no Reino Unido, 2,5% no Japão, 7,4% na Alemanha, 11,1% na URSS na Polónia elas foram de 18%. É toda uma geração de praticamente desaparece.
Depois seguiram-se os anos em que a Polónia integra o espaço soviético e alteração completa da sociedade, a criação do Sindicato Solidariedade e da sua proibição e a queda do Muro de Berlim e o regresso da Polónia ao seu lugar na  Europa.
Apesar de a geografia a colocar a leste a ligação intensa a ocidente percorreu todos os séculos da história da Polónia.
Os polacos foram divididos entre vários países, foram obrigados a jurar diversas bandeiras, foram dirigidos por pessoas desligadas dos mais profundos sentimentos da sociedade, espalharam-se pelo mundo – no período de Febre Brasileira de 1880 houve 100 000 candidatos das províncias polacas – e no entanto mantiverem sempre a sua ideia de ser polacos.
Segundo o autor foi a cultura polaca o maior tesouro da nação e a sua última linha de defesa. Foi ela que lhes permitiu enfrentar os intensos conflitos morais que foram surgindo na vida polaca. A questão da cultura e também da língua são profusamente analisados por Davies ao longo desta sua obra e constituem o seu aspecto mais interessante.
Os aspectos da integração da Polónia no Bloco de Leste são os maiores blocos constitutivos da obra e mesmo nos capítulos acrescentados depois da 1º edição de 1980 a eles se regressa. Para quem procure abordagens mais detalhadas de outros períodos históricos isto pode parecer ser demasiado mas é perfeitamente compreensível.
Quem quiser conhecer este imenso país que tão grande lugar irá necessariamente ocupar na UE tem aqui uma obra essencial. Bem escrita, inteligente, abrindo imensas pistas para a cultura polaca. Vai ocupar um lugar de destaque entre os livros de história que releio.

Heart of Europe - the past in Poland's present
Norman Davies
Oxford University Press
2001
Pags. 483
ISBN 9780192801265

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