Enfrentar uma obra de análise global da história é sempre um
desafio que exige coragem. Não apenas para os clássicos como o “Declínio e Queda do Império Romano” ou “Um Estudo de História” de Arnold Toynbee
mas também para as obras de autores contemporâneos.
Destes autores da actualidade, algumas obras são
verdadeiramente apaixonantes, como é o caso de “Guns, Germs and Steel”, de Jaared Diamond (existe tradução em português) .Releio-a de cada vez como se fosse uma
primeira leitura.
Surgiu recentemente “Why
the West rules for now – the patterns of history and what they reveal about the
future”, de Ian Morris.
Ian Morris é um arqueólogo de formação, Professor de Classicismo
e História na Universidade de Stanford mas adiciona ás suas análises históricas
componentes de outras disciplinas. Sempre considerei a arqueologia uma espécie
de caboucos da história. Sem eles o edifício não tem sustentação. Os anos mais
recentes trouxeram descobertas e análises muito interessantes para o estudo de
evolução da Humanidade. Pena é que muitos dos locais de grande riqueza
arqueológica estejam inacessíveis por guerras ou regimes despóticos ou ainda,
como é o caso da China, por a arqueologia apenas agora começar a dar passos
mais largos e a libertar-se de algumas grilhetas ideológicas.
Esta obra procura fazer um estudo comparado do desenvolvimento
do Ocidente e do Oriente, explicar a razão porque, excepto num período á volta
do ano 1100, o Ocidente tem estado á frente do Oriente e analisar as
perspectivas para o futuro.
“ It was maps, not chaps that took West and East down
different paths” é a tese central de Morris. Desenvolve para a sua análise um
modelo de Desenvolvimento Social ( a capacidade das sociedade para fazer as
coisas) que assenta em 4 variáveis: a captação de energia, a
organização/urbanização, a capacidade para fazer a guerra e a tecnologia de
informação.
Para Morris a mudança é o resultado de tempos de desespero
que pedem medidas desesperadas ás pessoas: a origem da agricultura, o
aparecimento das cidades e dos estados, a criação dos diferentes impérios, a
revolução industrial, etc. A relação entre a geografia e o desenvolvimento
social é uma estrada de duas vias: por um lado, o ambiente físico modela as
mudanças de desenvolvimento social, por outro as mudanças de desenvolvimento
social modelam o significado do desenvolvimento físico. Cada época consegue o
pensamento cultural de que necessita ditado pelos problemas que o
desenvolvimento geográfico e social força sobre elas.
Numa linguagem plenamente acessível aos leigos dos vários
períodos históricos, polvilhado com humor, e com constantes exemplos, vamos
percorrer 16000 de evolução da Humanidade, os seus Invernos, as suas
promissoras Primaveras e os seus verões de São Martinho. Ao longo destes
milhares de anos vamos compreender as razões do predomínio do Ocidente, as
razões porque á volta dos anos de 1100, o Oriente suplantou o Ocidente, as
consequências da abertura das auto-estradas atlânticas e o encerramento das
auto-estradas das estepes, até chegarmos aos dias de hoje.
Para alguns, a razão do predomínio do Ocidente sobre o
Oriente radica apenas no facto de que o primeiro é racional e dinâmico enquanto
que o segundo é obscurantista e conservador. Morris analisa contudo que em
determinados períodos o inverso é que foi verdadeiro lembrando também que
sociedades que foram progressistas e inovadoras, caso do mundo muçulmano, se
voltaram para dentro de si mesmo e deixaram de responder aos estímulos.
Como é que no presente podemos olhar para o futuro. Irá o
mundo ficar completamente Ocidentalizado ou completamente Orientalizado? Mais
hierarquizado, mais iliberal, mais estatista?
A proposta para analisar o futuro é a mesma para analisar o
passado: através do índice de desenvolvimento social.
Durante 14000 anos este índice cresceu 900 pontos e Morris
afirma que nos próximos 100 anos vai crescer mais 4000 pontos! No sec. XXI o desenvolvimento social ameaça subir tão
alto que mudará a o significado da biologia e da sociologia como as conhecemos. Vamos enfrentar a maior descontinuidade da História.
Poderemos evitar uma “Nightfall( nome de um famoso conto de
juventude de Asimov) e as suas alterações climáticas, as suas epidemias e as suas guerras? E se assim for somos
capazes de conceber hoje as formas do que irá aparecer? Mais do que querer
saber se será o Ocidente ou o Oriente a terem a predominância mundial importará
conceber como a Humanidade irá enfrentar as radicais mudanças que o mundo
anuncia.
É um livro com lugar marcado em qualquer estante de livros
de História daqui para a frente.
Fiquei interessado. Raramente aparece um bom livro que seja realmente bom e coerente sobre este tema.
ResponderEliminarestou louca para ler este livro, ele ja esta traduzido para o portugues? quando chegara ao brasil?
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